terça-feira, 9 de junho de 2009

"De uma cafonice celestial" por Matheus Torreão Farias



Tudo que o céu permite (1955) é um filme que me arrancou muitas risadas. Isso seria ótimo, claro, caso a idéia do diretor Douglas Sirk não fosse fazer um melodrama. Aliás, diversas vezes me perguntei se a intenção dele era realmente comover o espectador ou fazer alguma espécie de sátira ao próprio estilo, de tão caricatas que as cenas me pareceram.

As atuações também não ajudaram muito, começando pelo galã Rock Hudson: o homem parece ter saído da Escola de Atores Sylvester Stallone! A maneira como encara o papel de conquistador implacável é tão cafona que chega a ser simplesmente impossível levá-lo a sério. Lembrou-me bastante as canastrices de Elvis, que também costumam me divertir muito.

No filme em questão, Rock interpreta Ron Kirby, jovem jardineiro que se envolve com Cary Scott (Jane Wyman), uma viúva 15 anos mais velha. Como era de se esperar, o romance enfrenta vários obstáculos: desde a hipocrisia do clube de meia-idade freqüentado por Cary até a pressão dos seus filhos e sua própria insegurança diante das investidas de Jo-Ann (Leigh Snowden), sobrinha atirada de uma amiga do casal que vez ou outra flerta com Ron.

E Cary tem motivos de fato pra ficar insegura: além de ser mais velha, ela passa boa parte do filme se portando como uma das protagonistas mais sem personalidade de todos os tempos, sempre mais preocupada com a opinião dos outros do que com seus próprios desejos. Se dependesse apenas da primeira impressão que temos de Cary, eu escolhia a sobrinha fácil.

Quando nos aproximamos mais do final, entretanto, a viúva começa a apresentar um pouco de audácia, enfrentando o preconceito da vizinhança que esperava vê-la casando com o aposentando Harvey (Conrad Nagel) e assumindo seu romance com o jardineiro. Por sinal, na hora de denunciar a hipocrisia da sociedade americana a caricatura de Sirk funciona. O maior exemplo disso é Mona (Jacqueline deWit), socialite espalhadora de boatos que de tão extravagante e indiscreta torna-se uma espécie de assombração na vida de Cary.

Contudo, pouco após essa mudança de comportamento, a viúva acaba cedendo aos apelos melindrosos dos filhos Ned (William Reynolds) e Kay (Gloria Talbott) e rompe o relacionamento com Ron num diálogo digno de novela mexicana. Mas não é preciso muito tempo para ela perceber que isto fora um erro: bastou ver os filhos seguindo com suas vidas e deixando-a sozinha com uma televisão para se dar conta da besteira que fez.

Antes do esperado reconciliamento, infelizmente, nós temos o episódio em que Ron despenca de um precipício porque se animou demais ao avistar a amada com quem não falava há tanto tempo. Não digo ‘infelizmente’ por causa do acontecimento trágico, e sim porque a cena é patética. Pra piorar, na cena final, quando Cary vai visitar seu amado, aparece um veado no meio da neve, simbolizando sei lá o quê. Provavelmente a pieguice sem tamanho do diretor.

No geral, Tudo que o céu permite é até válido enquanto tentativa de crítica social, mas peca demais pelo excesso de elementos cafonas e graças a isso acaba se expondo ao ridículo. Resumindo: passou muito, mas muito longe mesmo da minha galeria de favoritos.

Um comentário:

  1. Matheus: realmente você é um contraponto!
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    Uma das coisas que mais valorizo é um texto sincero. Sincero na pessoalidade.
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    Texo tem que ser honesto, e quando é divertido, melhor ainda! Isso sim prende o leitor!
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    "O HOMEM PARECE TER SAÍDO DA ESCOLA DE ATORES SYLESTER STALLONE" (milhoes de risos!)
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    DAVI LIRA

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