domingo, 1 de abril de 2012

"Metrópolis", por Natália Faria Lima


“O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração”. Está é a moral apresentada por Fritz Lang em Metrópolis (1927). Baseado no romance da escritora Thea Von Harbou, essa obra de ficção científica é considerada por muitos especialistas como uma das grandes representações do expressionismo alemão. O filme se passa no século XXI, na moderna e tecnológica cidade que dá nome ao filme, governada pelo autocrata Joh Fredersen. Enquanto na parte superior da cidade vivem a classe privilegiada e seus filhos, num mundo idílico perfeito, e ao mesmo tempo inovador, com pontes e ruas suspensas por onde circulam carros e trens, e veículos voadores sobrevoam a cidade, no subsolo da Terra está a Cidade dos Trabalhadores, onde os operários cumprem uma dura e cansativa jornada de trabalho controlando as máquinas que fazem funcionar toda a cidade, em uma situação completamente oposta àquela vivida pelos cidadãos da Metrópolis, mas que são secretamente guiados pelas palavras da jovem Maria (Brigitte Helm), que afirma que um dia um mediador virá para ajudá-los a lutar pelos seus direitos e libertá-los da miséria. Esse mediador acaba por ser Freder (Gustav Fröhlich), o filho do governante de Metrópolis.

Lang parece ter posto muito de seus próprios sentimentos no filme, repleto de expressões visuais, efeitos especiais, mistério, mitologia, ação e um certo toque de romance, com uma trilha sonora que passa perfeitamente as inúmeras sensações propostas nesse filme mudo. É claramente notável também a alusão a elementos bíblicos e religiosos em diversas partes do filme, que vão desde nomes de personagens até a representação de passagens do Antigo e Novo Testamento. Maria, por exemplo, é retratada como a pura e perfeita imagem de mãe, que prega a paz e a liberdade, a quem os trabalhadores veem como uma santa. Já a Maria-máquina é a imagem oposta, representando a mulher como o pecado e discórdia, luxúria e heresia, como a Igreja Católica pregava a imagem da mulher na Idade Média. Freder é a versão moderna de Moisés, que teria sido guiado por Deus para libertar os escravos do Egito, enquanto o pai é a alusão do próprio Deus. Além disso, outras representações aparecem, como o Jardim do Éden (Jardim dos Filhos), a Torre de Babel, e a Santíssima Trindade, no final do filme, entre outros.

Metrópolis é claramente uma obra preocupada em criticar a “mecanização da vida industrial nos grandes centros urbanos” e questiona a “importância do sentimento humano, perdido no processo”, e marcou profundamente a cultura pop, influenciando ícones da música como Madonna, Cristina Aguilera e Lady Gaga. Entretanto, o que interessa mesmo é que mesmo sendo produzido 80 anos atrás, continua bastante relevante hoje em dia, pois muitas das ideias apresentadas estão presentes no mundo contemporâneo, onde a tecnologia impera e a sociedade é quase inteiramente monitorada, cada vez mais controlada pelas máquinas e pelos meios de comunicação. É um ótimo filme e que certamente valerá a pena ser apreciado daqui há mais 80 anos.

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