terça-feira, 3 de abril de 2012

"Metrópolis", por Wilton Augusto Siqueira da Silva


Metropolis é um filme que, através da ficção científica, faz uma critica à sociedade industrial que se desenvolveu junto com o capitalismo e, no ano de 1927, ganhava uma força ainda maior através do método de trabalho mecânico, repetitivo e segmentado criado por Henry Ford em 1913.

A história se passa em uma mega-cidade chamada Metropolis, onde uma parcela da população vive sob a luz do sol aproveitando o progresso e a vida enquanto a outra parte, os operários, tem que se esconder no subsolo após uma longa jornada de 10 horas de trabalho repetitivo e desgastante.

Logo no início do filme, somos apresentados aos operários. Todos vestidos com a mesma roupa, marchando desanimadamente tanto para dentro das fábricas, quanto para suas casas, após o turno de trabalho onde cuidaram das máquinas que mantém a cidade funcionando para que os demais possam viver suas vidas na superfície. Em seguida, vemos o personagem principal que, vestido em suas calcas curtas, dá a impressão de um menino no corpo de um homem, vivendo sua vida sem preocupações, por ser o herdeiro do homem que comanda toda a cidade de metropolis. É quando Freder, o protagonista, pela primeira vez é colocado em contato com o mundo dos proletários que, de sua empatia pelos seus irmãos operários, ele sai em busca de conhecer mais sobre a vida que os mesmos levam e, com isso, se condescende de sua situação. Guiado por uma paixão instantânea por Maria, guia espiritual dos operários, Freder se vê numa cruzada para se tornar o elo entre seus irmãos do subsolo e da superfície.

Com cenas maravilhosamente orquestradas, de forma a acompanhar a cadência da música, ao espectador é possível sentir as emoções dos personagens principais e também dos operários no decorrer do filme. Através de uma produção épica para a época, os cenários constroem uma metrópole muito verossímil com aquelas que existem hoje ao redor do mundo. Ruas lotadas de carros, o céu preenchido de aviões, as gigantescas construções e enormes máquinas das fábricas, mostram toda a imaginação e capacidade do diretor e concluem umas das tarefas mais difíceis da ficção cientifica: “adivinhar” onde o mundo vai estar em nosso futuro.

Os efeitos especiais e de montagem utilizados no filme merecem um comentário à parte. A sobreposição de cenas são muito bem feitas, com transições bem realizadas, como as sequências da grande máquina devoradora de homens, dos trabalhadores da torre de babel e os inúmeros olhos encarando a “puta da babilônia”. Os cenários bem construídos que, no final do filme, também são muito bem destruídos pelos eventos do clímax deixam um amante da ficção de boca aberta, quando se leva em consideração a época em que a película foi filmada.

Não é apenas o trabalho técnico que merece elogio. O roteiro também é de grande sensibilidade ao lidar com várias problemáticas que surgem ao se analisar a sociedade industrial. A autora, Thea von Harbou, toca no assunto da estrutura dicotômica de interesses existente entre os grandes empresários e os operários, onde não existe ligação comum entre seus desejos e isso aumenta, gradativamente, a tensão entre as partes. Fala sobre a busca da substituição do homem pela máquina como força de trabalho onde, inevitavelmente, o robô irá substituir o homem em todas as funções, sem que se possa apontar a diferença além da maior precisão e aproveitamento por parte da máquina. Além do que, utilizando alegorias bíblicas maravilhosamente aplicadas, faz a explicação dos pontos de motivação dos núcleos e aumenta a importância da ação do protagonista para tentar impedir que, o ponto inevitável previsto por Karl Marx para o fim da sociedade capitalista, a revolta do proletariado, se passe de uma maneira anárquica e devastadora.

Metropolis é bom em todos os aspectos. Do ponto de vista técnico a produção pode ser considerada impecável, apenas o roteiro em alguns momentos atropela o desenvolvimento de algumas situações, mas, mesmo assim, como um todo, é maravilhoso. Duas horas e meia acaba sendo muito longo e cansativo principalmente para um filme mudo, onde o espectador precisa prestar atenção efetivamente em cada cena a fim de absorver a mise en scène e entender os acontecimentos. Contudo, para um filme fantástico como esse, é válido o todo o esforço.

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