terça-feira, 3 de abril de 2012

A Bela Inocência e a Futilidade de Gigi, por Clara Muniz Pacheco


Gigi é um filme encantador, e foi o vencedor do Oscar de 1958. O filme se passa em Paris, no ano de 1900. Apresenta lindos figurinos e apresentações musicais (que apesar de não serem geniais, têm seu certo charme). É um filme com um roteiro relativamente plano e previsível, porém, esse fator não o torna maçante e de mau gosto. Ele retrata com uma possível fidelidade a vida das pessoas do início do século XX: uma vida com muitas fofocas e com bastante “alpinismo social”. O filme conta a estória de Gigi: uma adolescente bastante infantilizada para a idade e muito levada. Não apresenta boas maneiras que são compatíveis com as da alta sociedade. Mora com a avó e a mãe (sendo sua mãe muito ausente em sua criação, e a avó muito presente; o pai não é mencionado). A avó e sua irmã têm o desejo que Gigi torne-se uma cortesã da alta sociedade, para ter uma vida mais confortável do que a que tem. Porém, Gigi não é nem um pouco interessada em tornar-se apenas mais uma dentre muitas outras damas da alta sociedade, lindas, com boas maneiras e falsas.

Ao mesmo tempo, mostra a trajetória de Gaston: um jovem homem bondoso, que se torna um galanteador sem coração após ter sofrido uma traição. Apesar de estar sempre no topo do calendário social de Paris, O jovem vê-se cada vez mais atraído pela forma alegre e vivaz com a qual Gigi se comporta. No início do filme, os dois têm um amor quase fraterno, o que causa um pouco de estranhamento ao percebermos que entre Gigi e Gastón, nascerá uma paixão intensa.

O filme mostra de detalhadamente a transformação de Gigi, de criança, para uma linda e atraente mulher que irá despertar um grande amor. O filme pode ser um grande entretenimento no início (pelo menos a meu ver), porém, mais para o final, esse torna-se um pouco maçante e sem sentido: há a grande dúvida que Gastón e Gigi têm ao decidirem ou não ficar juntos. Também existe falta de sentido no processo no qual Gigi torna-se uma das pessoas as quais abominava: uma mulher fútil de alta sociedade, das quais Gastón nunca gostou. O grande final do filme é a volta do casal, que está na iminência de casar-se, após uma briga muito mal explicada e confusa aos olhos do expectador: tudo termina em um mar de rosas, no qual Gigi continua sendo uma moça fútil da alta sociedade.

Alguns pontos positivos sobre o filme estão nas atuações (um pouco teatrais, decorrendo do fato de ser um filme musical da década de 50). Outro fator interessante sobre o filme é o fato de que a atriz Leslie Caron (Gigi), apesar de haver atuado no filme aos 27 anos, acaba convencendo os atores de que é apenas uma adolescente em um confuso processo de amadurecimento.

O filme termina da mesma forma que começa: o tio de Gastón, galanteador e machista, canta a música “Thank Heaven”, na qual agradece pelas menininhas, que crescerão e se tornaram belas mulheres, para que ele possa cortejá-las. Essa música demonstraria um quê de pedofilia e machismo, se não fosse a grande inocência que perpassa o filme inteiro. Sim, a inocência. Esta é a grande salvadora do filme (além dos lindos figurinos e cenários, e atores atraentes). Gigi é um filme água-com-açúcar que, porém, toca o coração dos espectadores mais românticos.

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