terça-feira, 3 de abril de 2012

Pacto de Sangue, por Felipe Nunes Paiva



Pacto de Sangue é, inquestionavelmente, um dos maiores e mais famosos expoentes daquilo que ficou conhecido como film noir. Escrito e dirigido por Billy Wilder esse longa de 1944 é inesquecível, tenso e sensual ao mesmo tempo e consegue conquistar qualquer espectador à primeira vista.

O segredo desse estonteante filme de Wilder reside em sua magistral construção como um todo. Escrito em parceria com o também roteirista Raymond Chandler baseado em um livro de James M. Cain e de uma manchete policial da época, Pacto de Sangue se destaca pelo ótimo desenvolvimento de seu roteiro ágil, dinâmico e perspicaz, além de conter ótimos diálogos e trechos que evocam uma forte sagacidade dos personagens, como no trecho em que Walter Neff, após conhecer Philys, a galanteia e ela o adverte com a seguinte frase “Nosso estado tem um limite de velocidade”, referindo-se com isso a rápida atitude de galanteio por parte de Neff. Assim como a confissão histórica de Neff na agência de seguros “Fiz [o crime] por dinheiro e por uma mulher. Fiquei sem o dinheiro e sem a mulher.” O filme ainda por cima se desenrola sob a perspectiva do flashback e da narração em off, tornando o filme de Wilder um exemplo de novidade narrativa. Por esses e outros arranjos de roteiro é que Pacto de Sangue se destaca dos demais noir e recebeu indicação ao Oscar daquele ano na categoria de roteiro adaptado.

Outro aspecto relevante na construção de Pacto de Sangue é a atuação dos atores Fred MacMurray (Walter Neff), Barbara Stanwyck (Phyllis Dietrichson) e Edward G. Robinson (Barton Keyes), que, incontestavelmente, fornecem a outra parte da força e do brilho desse filme. Barbara emprega em sua personagem uma atmosfera ao mesmo tempo fatal e, às vezes, ingênua, fazendo muito uso do minimalismo. Fred Mac Murray, assim como Barbara, consegue transmitir uma áurea de indignação e pena de uma única vez. Essa característica ambígua de ambos é que muita vezes encontramos nos films noir em geral, já que muitas vezes os personagens não podem ser taxados nem de mocinhos e nem de vilões, eles simplesmente são humanos e isso consiste em erros e acertos por maiores que sejam as conseqüências dos atos. E isso fica bem claro no momento em que Neff tem a chance de incriminar Zachetti, mas não o faz, pois, de certo modo, sua consciência não permite. Edward G. Robinson vive um exótico investigador de seguros e seu personagens está cheio de diálogos ágeis e precisos e, de certa forma, é o alívio cômico desse longa tão cheio de tensão e suspense.

A parte técnica de Pacto de Sangue também faz jus a grande estética sempre empregada nos filmes noir da época. A fotografia em preto-e-branco e o e o baixo contraste favorecem ao filme um certo tom sombrio e noturno ao longa. Na cena final entre Neff e Phyllis, no qual um acaba baleando o outro, a sala em que eles estão está mergulhada numa quase escuridão total, favorecendo ao filme um tom mais tenso.

Pacto de Sangue é um filme que permanece na memória de quem o assiste por todo o resto da vida, nem um pouco fácil de ser esquecido, e é, acima de tudo, um filme para ser visto mais de duas vezes (é mais que obrigatório vê-lo pela segunda vez). O longa de Wilder é uma arte que merece ser lembrada e eternizada nas listas de grandes produções da cinematografia mundial.

Um comentário:

  1. Muito bem redigido essa resenha, dessa forma,há jma5 melhor compreensão do filme. Parabéns!

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