domingo, 1 de abril de 2012

"O homem que fazia as pessoas rirem", Thaizy Isabelly


Contrastes humanos é um filme metalingüístico: o que move seu personagem principal é um tipo de desejo de fazer um filme que não seja fútil, que faça a diferença. Também é um filme de forte cunho social, afinal seu personagem principal a partir do momento em que fica “sem eira nem beira” passa por diversas situações bastante fortes. Só isso daria ao filme um status de “merece assistir”, mas não bastando isso, “Contrastes humanos” também é uma incrivelmente boa comédia screwball de um dos mestres do assunto (Preston Sturges, que também lança no mesmo ano “The lady eve”). Aqui a metaliguangem e a critica social explicita unem-se à fala rápida, ao divorcio em situações cômicas e ao humor meio pastelão, com direito a uma queda na piscina anterior a “A felicidade não se compra”. É um desses filmes que merece ser visto mais de uma vez, mesmo que em um delas seja apenas para dar boas gargalhadas.

Numa introdução com diálogos rapidíssimos, um diretor de comédias hollywoodianas (Joel McCrea numa atuação bastante convincente) deixa claro que quer fazer um filme sério (tema, aliás, bem recorrente na ficção desde o recente “Meia-noite em paris” até ao anterior “A vida é uma comédia”) Ele não vê mais sentido em continuar fazendo esse tipo de filme com os Estados Unidos em crise. Mas como fazer filmes sobre o que ele não vive? Com toda vontade de fazer o filme decide então rodar pelo país com apenas poucos centavos no bolso em uma tentativa de saber como é andar sem rumo e sem identidade. A partir daí, o filme vira brevemente um Road movie com situações meio malucas. Até que ele conhece uma atriz que sonha em trabalhar com o Lubitsch (interpretada pela bela, mas controversa Veronica Lake). A primeira tentativa de se tornar um mendigo é frustrada quando ele resolve ajudá-la dando carona e “rouba” seu próprio carro. Ele tenta recomeçar sua jornada agora com ela a seu lado, mas de novo sua tentativa é frustrada. Ele nota que por mais que ele tente sair, ele sempre acaba voltando pra Hollywood. Então numa reviravolta fantástica, Sullivan se vê enfim em crise: preso (literalmente) e sem identidade.

Basta dizer que num certo momento, Sullivan vê o efeito que uma sessão de cinema com risadas pode provocar em alguém sem perpectiva. E claro pouco depois, ele consegue resolver o problema para felicidade da personagem de Veronica Lake e tristeza da sua ex-mulher, que casara com o contador. Ele pode finalmente fazer o filme, mas ele resolve não fazê-lo (os irmãos Cohen o fariam anos depois). Afinal, como o próprio personagem diz, “fazer as pessoas rirem tem muitos méritos. Sabia que é a única coisa que muita gente tem?”

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