domingo, 1 de abril de 2012

“Uma mulher sob influência”, o extremo de Cassavetes, por Alan Campos.


Considerado o “pai” do cinema independente norte americano, John Cassavetes realizou diversos filmes de destaque para a cinematografia mundial, dentre eles “Shadows” e “Faces”. Entretanto o estilo do diretor chega ao seu auge com “Uma mulher sob influência”, que acabou por se tornar sua obra mais conhecida e um dos melhores filmes americanos da década de 70.

Ligeiramente mais acessível ao público, o filme de Cassavetes sobre uma mulher tendo um colapso nervoso é uma aula de direção que beira a perfeição. Todos os elementos dos filmes de Cassavetes são levados ao extremo nessa obra: Planos-sequências, exagero sentimental dos personagens, fotografia com estilo de documentário (câmera na mão reforçando a tensão constante entre os personagens) e a improvisação dos atores resultando em atuações marcantes. Cassavetes não era um diretor preocupado com os aspectos técnicos, seus filmes não eram de grandes méritos técnicos, com exceção do trabalho de câmera. Como homem de teatro, gostava de passar horas e horas com os atores definindo seus personagens.

A história é simples, uma dona de casa (Gena Rowlands) pouco a pouco vai se comportando de forma mais estranha se tornando paranoica, ansiosa e imprevisível. Seu marido (Peter Falk) começa a desconfiar da sua saúde mental. Após perceber que as suas atitudes passam a afetar os filhos, ele decide interná-la para tratamento psiquiátrico. Rowlands está impressionante como a dona de casa Mabel, podemos considerar sua atuação o ponto alto da carreira, cheia de afetações e tiques, por muitas vezes risíveis, ela convence como uma mulher a beira da loucura total, sua personagem é cheia de vida, somos totalmente covencidos pela Mabel louca ou pela Mabel bondosa e afetuosa. O triunfo de Cassavetes é em explorar tão bem sua protagonista, dando-lhe camadas e camadas de profundidade, causando ora incômodo no espectador, ora compaixão. O marido, Nick, interpretado por Peter Falk, também merece destaque. Vemos, ao inicio, um homem firme e forte, que com o desenrolar da história se mostra tão frágil quanto sua mulher e acaba por se tornar tão sobrecarregado quanto ela. Os planos-sequência do filme estão dentre os melhores da filmografia do diretor, aqui é onde Cassavetes brilha mesmo, especialmente em cenas como a do almoço, em que Mabel tenta parecer receptiva com os colegas de trabalho do marido. Havendo espaço para improvisações por parte dos atores, as cenas tomam vários rumos muitas vezes inusitados, revelando outros lados dos personagens tornando os planos cada vez mais imprevisíveis.

Quarenta anos após o lançamento do filme, ele ainda se mostra forte, uma aula de direção e de atuação. O filme foi produzido de forma independente sem apoio de estúdios e encontrou dificuldade para ser distribuído, entretanto ao ser indicado para o Oscar (melhor atriz e melhor diretor) demonstrou que filmes independentes podem chegar ao mainstream. O filme é uma obra prima, o método de Cassavetes extrai atuações fascinantes, seus planos-sequências, quase em tempo real, mostram-nos a complexidade das relações matrimoniais. Hoje em dia, diretores como Lars Von Trier, em “Melancolia”, por exemplo, tentam atingir algo que Cassavetes realiza com tanta naturalidade e espontaneidade.

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