terça-feira, 3 de abril de 2012

"O fundo do coração", por Camilla Lapa de Sá Câmara


O filme começa mostrando a cidade de Las Vegas, que foi toda feita em estúdio com diversos cenários e uma direção de arte excepcional, enquanto isso se escuta uma das músicas da trilha sonora, composta e cantada brilhantemente por Tom Waits, em alguns momentos a música parece dialogar e expressar sentimento de acordo com o que ocorre no filme.

Após a “apresentação” da cidade, nós vemos Frannie (Terry Garr), fazendo a composição de uma vitrine, ela trabalha em uma agência de turismo, e sonha em conhecer os lugares exóticos que são construídos por ela na vitrine e que ela só conhece por foto. O seu namorado Hank (Frederic Forrest) trabalha em uma espécie de ferro velho perto do deserto em Nevada, seu sonho é ter uma vida estável, comprar a casa em que os dois vivem e por isso os dois têm grandes divergências de pensamento, pois ela é sonhadora e ele realista. Por esse motivo, eles brigam e então se separam no feriado de 4 de julho, e é como se eles conquistassem uma independência e tivessem liberdade para fazer o que quisessem.

Uma das coisas mais interessantes no filme é a iluminação que muitas vezes nos guia na história, nos faz entender o que os personagens sentem e em alguns momentos ela tem vida própria, nos dá outro olhar sobre determinada cena.

Outro fato interessante é a transição de uma cena para a outra, quando Hank está falando sobre Frannie com o seu melhor amigo Moe (Harry Dean Stanton), por exemplo, a cena seguinte de Frannie conversando com a sua amiga sobre Hank é sobreposta e aparece na parede da sala em que Hank está. Então, o ambiente da cena da frente se escurece como em uma peça de teatro, chamando a atenção para a conversa das garotas. E esse tipo de sobreposição ocorre muito durante o filme, pois mesmo separados, um sempre está pensando no outro, há uma forte ligação entre eles.

Para tentar esquecer Frannie, Hank se envolve com uma atriz circense, Leila (interpretada pela belíssima Nastassja Kinski), e a leva para o ferro velho que é um local de maior realidade para Hank, lá Leila começa a dançar e andar numa corda bamba enquanto Hank rege uma orquestra formada pelas buzinas e pelas luzes dos carros velhos, os dois passam a noite juntos no ferro velho e na manhã seguinte Hank acorda desesperado querendo saber onde Frannie está e passa a procurá-la, Leila então desaparece, como em um passe de mágica.

Quando Frannie vai embarcar em um avião com Ray, para Bora Bora, Hank tenta convencer Frannie a ficar com ele, dizendo que a ama e canta uma música, mas mesmo assim ela decide embarcar, o que faz com que ele fique arrasado, escuta-se um trovão e então o ambiente fica pesado, começa a chover, simbolizando o interno de Hank. Ele vai na chuva para sua casa, que está muito sombria, pega as roupas de Frannie, se senta na frente da lareira e se prepara para queimar tudo, enquanto chama o nome dela chorando, nesse mesmo instante Frannie entra na casa dizendo que cometeu um erro em partir, a chuva para e o ambiente fica claro. Os dois se aproximam emocionados, se beijam e permanecem abraçados. Ao fundo mais uma bela canção composta por Tom Waits e interpretada por Crystal Gayle, uma cantora de country que cantou de uma forma sublime o jazz da trilha de Waits. E assim o filme se encerra, com um final previsível.

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