segunda-feira, 4 de maio de 2009

"A Estética do Absurdo" por Aaron Athias


“Afogando em números” de Peter Greenaway é non-sense e não é. Ele não pode ser considerado totalmente non-sense pelo simples fato de que dele podemos extrair um sentido e até uma previsibilidade nas ações das personagens durante todo o longa. Mas o aspecto non-sense está inserido nos detalhes. Nas composições cênicas, na iluminação, nas falas e nos diálogos. Esses elementos estéticos do absurdo que caracterizam o filme são, ao meu ver, o grande trunfo de Greenaway, pois o enredo em si é simples, repetitivo e não apresenta um grande diferencial.

Filmado nos campos e praias gélidas e sob um eterno céu cinzento do oeste da Inglaterra (cidade de Suffolk) “Afogando em números” conta a história (ou o jogo) das Cissies' Colpitts. Mãe, filha de meia idade e filha jovem compartilham o mesmo nome e o mesmo sentimento em relação aos homens. Ao longo da trama, as três gerações de mulheres vão afogando seus respectivos maridos pelos motivos mais diversos. A idosa Cissie Colpitt 1 (Joan Plowright) afoga seu esposo ao encontrá-lo bêbado dividindo a banheira com sua amante. Já a Cissie Colpitt 2 (Juliet Stevenson) mata o marido por mera insatisfação amorosa ao passo que Cissie Colpitt 3 (Joely Richardson) mata pelo fato de que é um “absurdo o marido de uma nadadora não saber nadar” (não nessas palavras). Na medida em que os assassinatos ocorrem, as três gerações de mulheres recorrem ao velho Madgett (Bernard Hill), o legista passivo e apaixonado pelas três ambiciosas mulheres, que vai encobrindo os crimes alegando as razões mais absurdas pelos quais eles teriam acontecidos. Paralelamente e em meio a toda a trama está o filho de Madgett. O garoto Smut (Jason Edwards), com leve jeito de autista, vai inventando durante todo o filme os jogos mais estranhos e praticando hobbies mais bizarros, entre eles a paixão em numerar obejtos e mariposas.

Curioso e genial ao mesmo tempo é a maneira pela qual Greenaway retrata a infância. Smut é o ícone dessa fase da vida marcada pela imaginação e isso é claro no momento em que ele usa dessa imaginação para criar seus jogos e brincadeiras. A própria estrutura narrativa do filme (embora focada nos adultos) de repetir os mesmos acontecimentos três vezes lembra fortemente os contos infantis. Curioso também não é nem notar a inocência do mundo infantil retratada por Greenaway mas sim a indiferença. É essa a palavra que define Smut e sua relação com o mundo adulto marcado pela ambição, sexo e crime. A criança de Greenaway é inocente, indiferente, criativa e apaixonada. O amor de Smut pela pequena estranha Elsie, Contadora de Estrelas é um amor que, embora camuflado nos diálogos tipicamente infantis, é profundo e platônico aproximando a figura do garoto com a figura do adulto.

A relação entres os filmes de Greenaway com as artes plásticas são nítidas, e, no caso de “Afogando em números” são mais explícitas ainda. Os closes da câmara parada em frutas e insetos compõem quadros renascentistas a moda de Giuseppe Arcimboldo (aquele pintor célebre por suas cabeças antropomórficas compostas a partir de plantas, frutas, animais e outros elementos). Não era à toa que Greenaway era fã de artes plásticas, especialmente a pintura flamenga, e isso é notável na composição cênica, na iluminação (principalmente na cena da abertura que mostra a Contadora de Estrelas pulando corda em frente a sua casa) e nos contrastes concomitantes de traje e nudez, natureza e arquitetura, mobília e povos, prazer sexual e morte dolorosas. De fato as cenas de “ Afogando em números”, apresentam ambientes carregadíssimos de cores, objetos e detalhes em excesso, objetos muitas vezes estranhos que desviam o olhar do espectador.

E essa, eu acho, a proposta de Greenaway ao espectador. Convidar o espectador a observar seus quadros, suas cenas, e participar do seu jogo absurdo de “caça-números”: contar e procurar os números presentes ora na própria cena, ou na fala de alguma personagem.

Em suma: O absurdo é uma constante no filme de Greenaway. Diálogos estranhos
e muitas vezes godardianos, afirmações sem nexo, jogos inventados, roupas bizarras, hobbies malucos, iluminação esquisita, personagens doidos e tudo ao som de uma trilha bastante atípica marcada por um violino frenético. O non-sense vira algo brilhantemente e meramente estético. O artíficio ideal para tornar um enredo simples em um filme cômico e atrativo onde a atmosfera de sonho reina e cria uma nostalgia dos tempos férteis da imaginação infantil.

Um comentário:

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