domingo, 18 de abril de 2010
"If..." por Pedro Coelho Duarte Ribeiro
“If...” não é propriamente um filme de escola. Ele extrai do gênero vários elementos para fins estéticos específicos: autoritarismo, juventude, formação da pessoa. A escola não é a única fonte, o momento histórico é que dá o tom de rebelião ao filme. 1968, Revoltas estudantis, hippies, drogas, liberação sexual: jovens pondo em xeque os mais arraigados costumes. Em sintonia com a atmosfera da escola e dos anos 60, militares surgem lisergicamente no meio do filme e belas imagens da fria e firme arquitetura da escola reafirmam o peso esmagador da tradição.
A narrativa do filme é alegórica. Os personagens não são pessoas, mas símbolos. São metáforas de entidades sociais maiores, cujas cenas representam seus macrorelacionamentos. Durante todo o filme Travis e seus amigos - juventude desajustada – estão em busca de referenciais próprios para desenvolver sua individualidade e colidem em várias barreiras sociais: há os outros jovens conformados ou até compactuantes com a moral vigente. Há fiscais cujo papel moralizante esconde suas próprias imoralidades. O diretor e seu falso discurso conciliador. O padre como uma religião justificadora da opressão. Trata-se também da sexualidade. Uma jovem moça representa a liberdade sexual. Um jovem com feições femininas mostra o lugar do homossexual na sociedade. Há outros personagens-símbolos menores, mas não menos interessantes: o jovem calouro sofrendo com a adaptação daquele ambiente que agride seus impulsos individuais. O nerd como uma ciência desajeitada e solitária em seus próprios devaneios. O velho militar repetindo seus jargões de autoritarismo.
O enredo é tênue, senão nulo: os eventos não se conectam propriamente, mas o fato de haver elementos em comum cria uma conexão mais conceitual do que narrativa que se reflete na divisão do filme em capítulos. Essa desfragmentação além de útil para tornar mais forte as alegorias, dá um clima surreal que se adequa bem ao conteúdo. Forma e matéria estão em sintonia. No decorrer dos capítulos, situações são construídas para colocar em choque os diversos personagens-símbolos. O filme é conduzido sempre no sentido da não possibilidade de coexistência culminando com a cena final, onde os jovens desajustados junto da “liberdade sexual” e do “homossexualismo” metralham todos os outros personagens, matam o diretor que quer resolver a situação com um diálogo ingênuo, enquanto militares decadentes e velhinhas rabujentas atiram em resposta. É a total impossibilidade de convivência entre uma coletividade uniformizadora e indivíduos com demandas particulares.
Desde as artes visuais até os intricados jogos de poder presentes na sociedade,
“If...” é um filme inteligente, meticuloso e de bom gosto. Em uma primeira vista, o tom alegórico do filme pode parecer ingênuo por deixar claro e direto demais as metáforas que envolvem um filme. Mas há uma clara opção política por “nomear os bois” e mais do que isso há uma opção estética amparada em uma longa tradição satírico-alegórica britânica – Thomas More, Jonathan Swift, George Orwell ,Aldous Huxley, et cetera – e vale ressaltar que “If...” se filia com dignidade a estes grandes nomes da arte.
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