domingo, 18 de abril de 2010
"The History Boys" por Lucas Freire Rafael
Toda pessoa, na sua fase colegial, passa por uma situação bem típica: a pressão de o que escolher para o futuro, quais carreiras seguir, como chegar até elas. The History Boys trata exatamente disso, oito jovens, cada um com conceitos diferentes de mundo, vêem-se no grande momento de suas vidas, no qual eles estão sendo preparados para entrar nas universidades mais tradicionais da Inglaterra, Oxford e Cambridge, mas será que é esse o verdadeiro propósito de cada um dos estudantes?
Em 1983, num colégio da cidade de Yorkshire, oito alunos são preparados, com aulas exclusivas e direcionadas, para a prova de admissão das Universidades de Oxford e Cambridge. O grupo de estudantes é bem heterogêneo, entre eles, Scripps, um jovem religioso que renega os prazeres sexuais, Posner, além de judeu, é um garoto com sua sexualidade não definida, Dakin, o único dos rapazes que possui alguma experiência com garotas, Timms, o “acima do peso”, Crowther, o negro, Akhtar, o muçulmano, Rudge, o típico estudante que possui uma boa aptidão para os esportes e Lockwood, o dito “sem caracterizações”.
Os principais mentores desse grupo, a princípio, eram o professor Hector e a professora Lintott. Porém, o diretor, insatisfeito com a dinâmica dos professores (em especial a de Hector) decide contratar um professor mais jovem, Irwin, que deveria trazer aos alunos uma proposta de ensino diferente até então, proposta essa que vai totalmente contra a metodologia de Hector.
Com seus já 60 anos, Hector leciona estudos gerais, mas, ele procura aprofundar os temas mesmo nessa perspectiva generalista. Hector estimula um aprendizado processual, por meio de atuações improvisadas, cantorias acompanhadas do piano e reflexões sobre livros. Sempre citando trechos de grandes obras, frases de pensadores e versos de poemas, cenas de filmes, Hector tenta afastar os alunos de uma visão excessivamente pragmática do mundo, incitando eles a pensar, refletir, construindo assim, sem pressa e como um processo mais abrangente, uma sabedoria.
Irwin entra no colégio para substituir a professora Lintott na matéria de História. Os oito jovens são surpreendidos por um professor jovem, recém saído da universidade. Irwin pensa que, se os alunos estão numa turma especial preparatória para a ingressão nas duas universidades de maior renome e tradição da Inglaterra, eles precisam aprender tudo o que lhes podem dar vantagem na entrevista com o júri, mesmo que isso vá contra sua ideologia e conceitos.
Lintott, por mais que não lecione mais para essa turma, ainda é muito presente no filme, tanto como uma espécie de guia e conselheira dos alunos, como uma interlocutora sempre constante de Hector. O diretor do colégio, por sua vez, está focado excessivamente com a missão de colocar aqueles alunos dentro de uma das principais universidades do país, esse excesso provavelmente se dá pelo fato de sua carreira acadêmica ser frustrada, e por isso, tenta transpor algo que não conseguiu, (entrar em Oxford ou Cambridge) para os alunos. Ele também se encontra na seguinte dualidade: privilegiar o professor com a dinâmica que, na visão dele, prejudica a turma, mas por sua vez, já possui história dentro do colégio e o apreço dos alunos, ou dar vantagem ao professor jovem, sem muita experiência e novo na instituição, mas, possuidor de uma metodologia possivelmente eficaz voltada para o propósito daquela turma?
The History Boys, apesar de usar e adentrar fundo no tema “escola”, não usa alguns clichês bem conhecidos do gênero. Hector, o professor mais velho e supostamente tradicional, foge à regra e ao gênero através de suas propostas avançadas e reflexivas que estimulam o aluno a pensar, enquanto o jovem Irwin, típico novo professor, surge com estratégias excessivamente pragmáticas, quase sem nenhuma intenção mais reflexiva, visando somente, e nada mais, ingressar com êxito todos os alunos nas suas respectivas universidades.
Porém, o diferencial do filme é outro. The History Boys trata com delicadeza, e talvez com menos enfoque, a homossexualidade de Hector e de Irwin. Os dois casos são tratados e abordados de formas diferentes: Hector é um professor casado, que sente atração por seus alunos, e não esconde nem deixa de demonstrar (às vezes explicitamente) essa atração. Já Irwin é mais reservado e discreto, mas no decorrer do filme, parece se perturbar a partir do momento em que se interessa por um dos alunos, Dakin. A forma em que o tema é tratado surpreende, pois no momento em que o espectador imagina que o rumo da história seguirá para uma direção diferente, o enredo retorna para a mesma linha que seguia.
O verdadeiro enfoque do The History Boys é tratar das incertezas e dúvidas dos jovens e as conexões com a história. Questões sobre amor, religião, sexualidade e profissão são constantes no cotidiano desses oito estudantes que retratam, de uma forma indireta, toda a juventude. Porque não se deveria amar alguém independente do seu sexo? Porque não seguir a carreira profissional que se pretende e não a que seus pais acham que deve? Deus existe ou não passa de uma grande alienação? O filme começa com perguntas, se desenrola com elas e por fim, termina com outras mais. The History Boys não pretende, em momento algum, responder nenhuma dessas questões, mas sim, nos trazer uma reflexão conjunta de tais indagações, e, uma forma de exercer tal reflexão está bem clara no lema do Professor Hector: “Take it, feel it, and pass it on”.
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Belo texto sobre um belo filme.
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