terça-feira, 3 de abril de 2012

"O dinheiro", por Antonio de Lira


A tirania imposta a todos nós pelo fatalismo decadente do sistema monetário foi marcantemente traduzida em linguagem cinematográfica por Bresson. Em “O dinheiro”, último filme do renomado diretor de “Pickpocket,” sintetiza o amor decadente que a sociedade humana expressa pelo popular dinheiro, mostrando-nos quais façanhas o ser é capaz de realizar para conseguir a tão almejada moeda de troca da modernidade.

Uma nota falsa de 500 francos dispara o gatilho intermitente da narrativa, levando um rapaz de boa família a mentir ao passar a nota à frente, enganando a quase ingênua funcionária da loja de fotografia, quando o dono da loja reconhece a falsidade da nota, desonestamente decide dar continuidade à trajetória do dinheiro falso, pagando com a nota um prestador de serviços, Yvon, que não desconfia da origem do dinheiro e descobre que é falso através das autoridades policias. O técnico em revelação da loja de fotografia produz, por ordem do dono da loja, um falso testemunho contra o ingênuo prestador de serviços, que acaba sendo preso, mostrando que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, quando o assunto é dinheiro e mentiras.

Yvon quando preso, perde a filha que morre de difteria, é abandonado pela esposa e se vê totalmente sem rumo, até encontrar o técnico em revelação que acaba preso por ter roubado ao cofre da loja de fotografia sendo descoberto por distribuir o dinheiro, com o intuito de prestar caridade. Na cela da prisão o diálogo entre Yvon e o técnico expressa a idéia central do filme, onde o título do filme aparece e o dinheiro é chamado de Deus visível.

O filme é marcantemente construído sem uma trilha sonora, que não chega a fazer falta, pois os sons diegéticos preenchem perfeitamente as lacunas que poderiam ter música, com o farfalhar do dinheiro produzindo uma quase melodia. A violência das cenas finais é tão impactante quanto a forma como Yvon assume seus atos.

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