domingo, 1 de abril de 2012

Hunger, por Anderson Correia da Rocha


Hunger (2008) é o filme de estréia do diretor inglês Steve Mcqueen, que em comum com o velho astro holywoodiano só carrega o nome. Premiado com a Câmera D’Or em Cannes, o filme deu notoriedade ao diretor e ator principal. Ambientado na Irlanda dos anos 80 mais precisamente 1981, o filme enfoca os últimos dias de vida de Bobby Sands (Michael Fassbender) pelos olhos de um novo detento, Davey (Brian Milligan) numa prisão claustrofóbica em Belfast que servia de cárcere para os membros do IRA, onde Bobby , ativista condenado a 14 anos de prisão por posse de armas, comandava uma greve de fome entre os detentos com o objetivo de reivindicarem seus direitos e estatutos que eles julgavam terem sido desprezados pelo governo inglês.

McQueen mostra com intensidade o clima de paranóia que paira no ar apenas ao enfocar o dia a dia de um dos guardas da prisão em Belfast, que metodicamente, verifica todas as possibilidades de alguém ter sabotado o seu carro, casa etc dando assim uma idéia de como o movimento liderado por Sands era importante. Na prisão, os detentos são realmente devotados à causa, levando tudo sempre as últimas conseqüências. A greve de fome é retratada realmente de modo impressionante e forte. Muito forte. Com imagens extremamente realistas e provocantes, talvez até violentas, dos diferentes estágios do protesto. Se há uma coisa que McQueen não pode ser acusado, é de ser medroso.

O filme tem um ritmo lento, e bem gradual com muitos planos longos onde muitas vezes nada parece acontecer. Como artista plástico que foi antes de se tornar cineasta, ele tem uma forma bem peculiar de filmar sempre construindo belas tomadas, como na cena onde um dos guardas sai para fumar, em meio à neve. E na quase onírica seqüência final, que ratifica Sands como ele realmente é retratado no filme. Alguém extremamente determinado a lutar pelo ideal que persegue. Mas o filme talvez seja mais conhecido hoje em dia pela sua “longa cena de conversa” que consiste num diálogo sem cortes entre Bobby e um padre (Liam Cunningham) com quase 10 minutos de duração onde é revelado todo o contexto do protesto e ao mesmo tempo discutem as prováveis consequências, num belo diálogo cobre vida, morte e as escolhas que cada um tem que tomar baseado em suas próprias convicções.

O roteiro do dramaturgo inglês, Enda Walsh, nunca descamba para o sentalismo barato e é um dos grandes trunfos do filme. Assim como a competente direção de arte que remete muito bem à Belfast oitentista.


Também vale ressaltar o desempenho e a entrega inclusive física de Michael Fassbender na sua fase pré – astro, ao papel. Submetendo – se a uma dieta extremamente rigorosa para emagrecer a um estado quase crítico para viver o moribundo Bobby Sands nas suas últimas horas de vida. O resultado assemelha-se ao de Christian Bale em “O Operário”.

Filmado de forma particularmente bela, e sem medo de pôr o dedo na ferida, Hunger aborda de forma corajosa e original, um tema já amplamente discutido no cinema em tantos filmes de sucesso, como Domingo Sangrento de Paul Greengrass. A diferença é que aqui é mostrado o lado menos famoso do conflito que durou tantos anos entre a Inglaterra e a Irlanda do Norte

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