terça-feira, 3 de abril de 2012
"Palavras ao vento", por Cesar Castanha
Não é de se surpreender que Pedro Almodóvar tenha se declarado um fã absoluto de “Palavras ao Vento”, melodrama de Douglas Sirk. O filme tem muito a ver com a obra do diretor espanhol, posso até mesmo dizer que o aprecio e o deprecio pelos mesmos motivos. Isto fica para depois, pois antes de se falar de “Palavras ao Vento” é preciso entender do que se trata, senão o risco de ser mal entendido é grande demais.
A trama gira em torno de uma rica família petrolífera. O patriarca é Jasper Hadley (Robert Keith), cujos filhos biológicos só lhe trouxeram problemas. São eles Kyle (Robert Stack e seus olhos arregalados) e Marylee Hadley (Dorothy Malone, maravilhosa), um é o playboy alcoólatra e a outra é a ninfomaníaca não menos amiga do uísque. Aparente, o mais hábil no negócio da família é Mitch Wayne, praticamente um filho adotivo para Jasper, que lhe pagou sua educação por admiração ao pai de Mitch (pequeno fazendeiro de sua cidade natal). A história se complica quando Mitch e Kyle se apaixonam pela mesma mulher: Lucy Moore.
É um prato cheio para um dramalhão novelesco e um verdadeiro jardim de subtemas. Entre os mais óbvios está uma crítica ao modo americano de vida capitalista e a riqueza cega. Impotência, suicídio, incesto e adoção também estão em cena. O retrato é impiedoso em seus ápices. Por exemplo, o momento em que o médico diz a Kyle de sua possível infertilidade é o momento que desencadeia a série de fatores que culminam no clímax. Depressão, suicídio e paranoia, tudo como fruto do sentimento de impotência de um homem.
A paixão de Marylee por Mitch (assim como a personagem com um todo) é um poço para Freud. Que tal sua última cena? Quando ela segura a torre de petróleo em miniatura que um dia fora do pai (tomada maravilhosa que capta o retrato do pai com a mesma estatueta) e por ela demonstra sentimentos que variam entre raiva e carinho. Ou o enfarte de Jasper ao ver sua filha dançando loucamente ao som de um sensual jazz. Não é fácil ter a garota mais sexy da cidade como filha.
Agora me sinto mais confortável para voltar à questão inicial de apreciação e depreciação. “Palavras ao Vento” é um filme gostoso de ver, um entretenimento sofisticado. O estilo de Sirk esconde suas mensagens, vestindo o filme com roupas leves que escondem um corpo brutal. Ele foge do realismo em alta na época e em seu lugar acolhe os exageros dos estúdios de Hollywood. Porém, considero como sua maior semelhança com Almodóvar o uso da cor. Sirk soube usar esse artifício (consideravelmente recente) como poucos até então. Está na escolha de cores fortes para cenários e figurinos boa parte do drama de “Palavras ao Vento”. Isto pode ser notado desde o carro amarelo na primeira cena até as coloridas tomadas finais.
Já a questão de depreciação é tão simples quanto irrelevante. Trata-se de um gênero que não comove a mim particularmente. E isto quis dizer tanto quanto nada ao me deparar com Malone e a torre de petróleo (ou Malone em qualquer cena, de fato).
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