domingo, 18 de abril de 2010

"Narciso Negro" por Sofia Donovan




A jovem irmã Clodagh, professora da "Ordem das Servas de Maria", é enviada para uma isolada região do Himalaia para chefiar outras quatro freiras. Sua superiora, Madre Dorothea, através de advertências e receios (ela não acreditava que a freira estivesse pronta), antecipa ao espectador a “dificuldade da missão”.

As irmãs são tiradas de seu conventinho para transformar um antigo palácio, construído à beira de um precipício, que a pouco servira como casa para concubinas do pai do sultão em uma escola e enfermaria para as crianças da região.
Com Irmã Clodagh, seguem Irmã Briony, enfermeira experiente, Irmã 'Honey' Blanche, uma boa e idealista samaritana, Irmã Philippa, com conhecimentos em cultivo da terra, e a mentalmente instável Irmã Ruth.

No início as freiras passam por problemas de adaptação aos costumes e rituais do povo (que possui inclusive seu próprio ancião, homem que vive meditando nos arredores do palácio), e se abalam pela beleza exuberante e erotismo do lugar. Sr. Dean, o sexy inglês encarregado de dar apoio ao novo convento, e que não acredita na capacidade de sucesso da instalação, tem um grande papel nessa instabilidade, com suas aparições seminuas à lá ponney, conquistando Ruth e a própria Clodagh, que volta a pensar sobre seu passado e seus sonhos.

Ele trás ao palácio também a bela impetuosa Kanchi, adolescente de 17 anos, para que tentem “acalmá-la”, mas ela acaba conquistando jovem general Dilip Rai, excepcionalmente recebido no convento como aluno. Sempre ornado com jóias ele é o dono do inquietante perfume inglês Narciso Negro.

A determinação da freira não foi suficiente para impedi-la de ver as coisas saindo totalmente de seu controle. A Irmã Philippa passa a duvidar de sua fé e pede transferência, Ruth começa a entrar em estado psicótico devido à obsessão por Sr. Dean e os consequentes ciúmes de Clodagh, a população deixa de frequentar o convento por causa da morte de um bebê e o general e a “plebéia” fogem juntos.

O ápice do caos acontece quando, após Clodagh a tentar impedir, Ruth, já fora da Ordem e “vestida para matar”, foge ao encontro do Sr. Dean, que a rejeita e a manda de volta pro palácio.

De volta ao palácio, quando, repetindo a cena recorrente do filme, Clodagh bate o sino do alto do precipício, surge Ruth já desfigurada e sinistra e tenta empurrá-la, porém acaba caindo em seu lugar. Essa sequência é maravilhosa!

Clodagh, decepcionada pela falha, porém mais resignada, tomada por uma espécie de humildade espiritual, volta ao convento com as freiras que sobraram. É como se a madre superiora a tivesse feito passar por essa missão para alcançar esse novo “estágio”.

Esse mundo exótico, belo, clareou as idéias das freiras, ao contrário do que parece ser sugerido... Elas saíram daquele véu que o convento lhes impunha, passando a rever suas idéias, seu passado. Mas, ao final, Clodagh e suas freirinhas voltam para o convento deixando tudo pra trás, como um sonho (ou pesadelo).

O filme se foca nas incertezas e “desejos proibidos” que os aterradores ventos do alto da montanha parecem libertar nas freirinhas, um maravilhoso drama com toques de erotismo sobre o lendário conflito entre o espírito e a carne.

Baseado no popular romance homônimo da escritora inglesa, Rumer Godden, escrito, produzido e dirigido pela dupla Michael Powell e Emeric Pressburger – com toda sua excentricidade, o filme é repleto de atuações incríveis e sobre a fotografia de Cardiff, não são necessários comentários.

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