quarta-feira, 23 de junho de 2010

"razão e sensibilidade", por Pedro Coelho


Quem, como eu, foi buscar no filme a excepcional razão e sensibilidade de Ang Lee, decepciona-se. O filme não alcança a beleza plástica de O Tigre e o Dragão, tampouco sensibilidade psicológica de O Segredo de Brokeback Mountain, para citar os mais conhecidos filme do diretor. O crédito do filme é de Emma Thompson, que além de atriz, adaptou a obra homônima de Jane Austen para o cinema.

O filme se passa na Inglaterra do início do século XIX, onde a burguesia já havia subjugado a nobreza há mais de um século( portanto estavam mais livres do fogo revolucionário continental) e implementado uma revolução industrial que os tornava a maior potência da época. Mas a visão desta burguesia com ares aristocráticos é dada pelas duas finas filhas que após a morte do pai se vêem pobres vivendo com a mãe e a irmã mais nova em uma casa de campo emprestada por um parente distante.

Eleanor e Marianne, razão e sensibilidade, enfrentam a procura de um casamento sem dote e lidam com a pobreza imposta pelo destino. Enquanto a primeira vê a situação com a frieza do bom senso, a segunda se entrega de maneira apaixonada, porém idealizada. Todo o filme é permeado por essas dicotomias do titulo e das personagens: razão e sensibilidade, riqueza e pobreza, cidade e campo e por fim, e o Bem e o Mal.

O filme é recheado de estereótipos, talvez mais por conta dos duzentos anos que separam a realidade do livro da do filme e dos lucros da bilheteria do que pela incapacidade da escritora e do diretor. Mas os personagens não são tão rasos como seriam em outros filmes de Heritage. A estética do filme centrada nas dualidades faz que os personagens carreguem em si os opostos das suas tendências naturais e a revelação das ambigüidades internas dos personagens faz com que estes entrem em choque e servem como motor para a narrativa.

Dentro desta proposta o filme foi bem executado, e as indicações ao Oscar não negam. Mas não é o suficiente, as explosões de sensações que brotam do espírito humano (e que Ang Lee já mostou ser um bom tradutor) não foram devidamente exploradas. O filme não consegue ir além do próprio gênero. A forma do heritage não é satisfatória para alcançar as mais profundas sensações e reflexões e ir além do bem e do mal. A forma contamina o conteúdo: o retrato da época só serve para reafirmar os mesmo valores e uma visão simplista do mundo. Assim como para Ang Lee, nossa razão e nossa sensibilidade não foram intensamente demandadas.

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