sexta-feira, 30 de novembro de 2007

"A noite do iguana" por Bernardo Cortizo de Aguiar


Adaptado de uma peça de teatro, esse filme de 1964 tenta trazer a dinâmica do teatro para o cinema, mas se perde no meio do caminho. A primeira parte do filme, totalmente criada para o cinema, consiste em uma viagem turística pelo México dos anos 40, num ônibus dirigido pelo reverendo Dr. Larry Shannon (Richard Burton). A excursão, composta de senhoras de idade, tem como integrante uma mocinha, Charlotte Goodall (Sue Lyon), enviada pelo pai na viagem para esfriar seus hormônios em ebulição. A menina, obviamente, fica interessada no reverendo e tenta seduzi-lo, para desespero de sua tia e guardiã durante a viagem, Judith Fellows (Grayson Hall), que pensa ser o reverendo a tentar seduzir a sobrinha.

Após uma manobra desesperada, Lawrence leva o comboio até o hotel Costa Verde, cujos donos são amigos seus. Entre chegar ao hotel, descobrir que a proprietária e grande amiga sua, Maxine Faulk (Ava Gardner), é agora viúva e o aparecimento de dois dos carregadores de bagagens mais pitorescos da história (descamisados, com calças brancas de algodão, os dois sempre estão dançando, com um deles tocando maracás. Até mesmo enquanto carregam as malas), tentativas por parte da Srta. Fellows de falar com seu patrão para demiti-lo e a chegada da pintora itinerante Hannah Jelkes (Deborah Kerr) e seu avô, Nonno (Cyril Delevanti), Lawrence perde o juízo, o comboio “seqüestrado” consegue de volta a peça do motor do ônibus até então guardada atentamente pelo reverendo e consegue sair do local.

Com uma visão totalmente preconceituosa do México (um México permeado de caçadores de iguanas e tipos festeiros, como os carregadores de malas maraqueiros), o filme tem uma quebra neste ponto: agora, depois do colapso nervoso do reverendo Shannon, não se ouve mais falar do destino do grupo de turistas, de Charlotte ou de sua tia, deixando a primeira parte do filme perdida na narrativa: é apenas um gigantesco prólogo para situar a condição de Shannon, Maxine e Hannah.

A segunda parte do filme consiste num grande diálogo entre o ex-reverendo e a pintora itinerante, à noite, nas varandas do hotel. Um formato que talvez seja interessante no teatro, torna-se um tanto maçante na tela do cinema, principalmente por terem mantido a estrutura estática do original (os dois praticamente não saem do lugar). A idéia é concentrar a atenção na conversa entre os dois, enquanto destrincham seus passados e traumas, mas a monotonia da cena é de causar sonolência.

Talvez se assistido na época, ele tenha aparentado ser mais interessante, mas sob a óptica atual o filme não empolga, tem um problema sério com sua primeira parte e constrói apenas marginalmente a metáfora dos iguanas, que aparecem mais como elemento exótico da culinária mexicana (vendedores de iguanas em beira de estrada e o iguana capturado pelos carregadores maraqueiros). Tanto que o iguana capturado é o único utilizado como metáfora, preso na corda enquanto o reverendo Shannon está preso na rede, conversando com Hannah. Essa visão de turista sobre o México também fere a credibilidade do enredo: não há como levar o filme à sério quando todos os mexicanos apresentados são uma caricatura tosca dos tipos latinos vistos na mídia norte-americana.

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