quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

"Amor à flor da pele" por Philipe de Castro






Redescoberta em 1860 por um naturalista francês que pesquisava borboletas, a cidade de Angkor, no Camboja foi recentemente indicada como umas das 7 maravilhas do mundo moderno. Segundo historiadores, o centro de Angkor foi erguido em homenagem à Vishnu que representa o centro do universo pela tradição hinduísta. Angkor também foi usado como cenário para umas das cenas mais marcantes de Amor a Flor da Pele (In the mood of love), 2000, do diretor chinês Wong Kar-Wai.
Sentindo-se solitário pelas freqüentes viagens de sua esposa, o aspirante a escritor, Chow (Tony Leung Chiu-Wai) envolve-se amigavelmente com sua vizinha Chan (Maggie Cheung Man-Yuk) que também sofre pelo constante afastamento do marido a trabalho.
O ambiente inicial marcado pelo confidencialismo de duas pessoas desconhecidas, com problemas semelhantes, logo ganha uma carga emotiva forte em que intimidade e afeto se alimentam reciprocamente. Daí naturalmente surgirá o desejo, brequado pela alianças que ambos levam nos dedos. Todavia, é essa mesma miscelânea de sentimentos que irá revelar a Chow e Chan, curiosamente que seus respectivos companheiros são, na verdade, amantes.
Se antes, a relação se baseava num tom solitário - saudosista, agora, ambos vão ter que dividir, literalmente, a dor da traição. O que a priori poderia ser uma espécie de álibi para a efetivação plena do relacionamento entre os dois termina por criar um ponto intransponível.

Pouco a pouco a separação já pode ser pressentida. E fica ainda mais próxima quando o marido de Chan e a esposa de Chow estão perto de voltar. Aí é que Chow atormentado ( repetindo) numa das cenas mais marcantes de Amor a Flor da Pele viaja até o centro de Angkor - o filme até então passava-se todo em Hong Kong dos anos 60 - e lá, seguindo a tradição pela qual um segredo contado a uma fenda dos muros de Angkor e tampado com lama do local de lá nunca sairá, Chow sente ( pelo mesmos momentaneamente) sua alma liberta.

Wong Kar-Wai consegue como pouquíssimos unir o melhor do cinema oriental e ocidental de forma a produzir não apenas um filme, mas uma obra de arte inesquecível, em que o amor está a flor da pele, não reconhece pessoas, ele permanece e se transforma ao devir dos tempos.

Quizás, quizás, quizás.

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