quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

"Bonequinha de luxo" por Isabely Barros


Truman Capote escreve em 1958, Breakfast at Tiffany’s idealizando um filme protagonizado por sua amiga, a sedutora Marilyn Monroe. Mas após o acerto com os estúdios da Paramount para as filmagens, a idéia do escritor precisou ser abandonada, pois, Marilyn tinha contrato com a Fox e, alugar a atriz seria demasiado caro. A eleita então, a contragosto de Capote, foi Audrey Hepburn.



Audrey, que até que momento só havia interpretado moças inocentes, não correspondia exatamente ao perfil da garota de programa Holly Golightly. O roteiro foi, inclusive, adaptado e atenuado, fato excluso foi a bissexualidade da protagonista, por exemplo. A escolha do diretor também gerou discórdia: inicialmente seria Frankenheimer, mas Hepburn alegou que não e conhecia e pediu a troca. A direção fica por conta de Blake Edwards, dando início à frutífera parceria com a atriz.



A cena de abertura de Bonequinha de Luxo (1961), mostra Holly Golightly em frente à tradicional Tiffany’s, com ares de sonhadora, o grande objetivo da personagem é casar-se com um homem rico e tornar-se uma das senhoras freqüentadoras da loja.



É claro o modo como a personagem se mantém e o que faz para ganhar a vida, visto os encontros periódicos com um gângster na prisão, Sally Tomato; e os habituais cinqüenta dólares que recebe de cada companhia quando ela vai ao banheiro. O que surpreende é a ingenuidade preservada de Holly, que ganha simpatia e torcida do público.


A personagem de Hepburn deixara o campo para ser uma mulher da alta sociedade de Manhatan. Suas lembranças nostálgicas estão relacionadas à figura do irmão Fred, embora ainda demonstre certo carinho ao recordar do ex-marido. Na sua busca incessante para encontrar um companheiro que lhe confira poder e status social oferece festas desprovidas de valores morais. As cenas são caricatas, típicas de comédias pastelão — Edwards seguirá com o gênero sendo mais notável “A Pantera cor-de-rosa”, em produção posterior.



A chegada do escritor Paul Varjak (George Peppard) irá mudar a rotina de Holly. Eles desenvolvem uma intensa relação de identificação com um afeto crescente. O vizinho, assim como Holly é sustentado em troca de favores sexuais. A princípio ela transfere para ele a imagem de seu irmão, chamando-o diversas vezes de Fred. Curioso é que ela só vê o escritor como homem quando o chama pelo nome real.



A comodidade prejudica uma relação amorosa entre eles, pois, Varjak não possui recursos para se manter sem o auxílio de sua amante e, sobretudo Holly, não tira da mente o objetivo de tornar-se uma dama rica. Juntos passam momentos de romantismo e doçura, mas passado as horas de encantamento ela segue com seus planos e ele assume uma postura passiva diante dos envolvimentos da garota de programa.



O trunfo de Blake Edwards foi a humanização dos personagens; Holly e Paul não são vistos como promíscuos apesar do círculo de luxúria no qual estão inseridos. “Bonequinha de Luxo” conta com a expressão terna de Hepburn para manter o olhar inocente da menina do campo. A grande alteração em relação à novela que inspirou o filme é a opção da protagonista pelo amor.


O roteiro de Capote perdeu em densidade com a adaptação para o cinema, mas as alterações no enredo junto à promissora parceria de Audrey Hepburn e do diretor fizeram da trama um clássico, com direito à canção “Moon River”, escrita exclusivamente para a voz da atriz — que nunca havia estudado canto. O resultado é um filme com ares de conto de fadas moderno; suave, conflitante, mas, sobretudo envolvente.

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