domingo, 4 de julho de 2010

"Meu nome é Joe", de Ken Loach, por Débora Freitas Baía


Joe Kavanagh é um ex- alcoólico, que freqüenta o A.A., desempregado e residente da periferia de Glasgow. Ele é treinador do time local, e faz diversos “bicos” para sobreviver. My name is Joe é a frase que abre o filme, mostrando o relato do personagem numa das reuniões dos alcoólicos anônimos. Sarah é assistente social e numa de suas visitas a uma família (Liam e Sabine) do bairro, conhece Joe. Liam e Sabine são ex/usuários de drogas, viciados em heroína, o que fez Liam contraiu grande dívida, mas foi perdoado. Sua esposa, no entanto, não abandona o vício, e faz outra grande dívida, fazendo com que os traficantes ameacem quebrar suas pernas ou colocar sua mulher para se prostituir caso não pague a dívida. Liam é jogador do time de Joe. As histórias se entrelaçam no mesmo bairro.

A periferia da cidade de Glasgow é uma das mais pobres da Escócia e do Reino Unido, por isso mesmo sofre menos os processos de globalização e multiculturalismo que assola os outros países; ela amarga o desemprego estrutural e os índices de violência e vício em drogas, além de doenças de toda a espécie, problemas de saúde típicos de países mais pobres. Esse isolamento, junto ao uso de dialetos que os diferem dos demais bretões, os colocam numa posição anti-inglesa e anti-não europeus.

Esse filme mostra o sentimento de comunidade entre os viventes do mesmo bairro. Apaga-se a noção de identidade nacional a partir do momento em que não há grandes referências locais, apenas o senso de comunidade do bairro, naquela instância fragmentada do bairro. A coisa que promove essa cor local mais aproximada é o futebol. Quando Joe chama seu time de família e toma pra si os problemas de um de seus jogadores, como um pai. As vivências desse bairro também propõem uma reflexão sobre a situação escocesa, pois o país é o mais pobre do Reino Unido e mais acometido de violência e vícios de uma forma geral. A “comunidade global” fica a cargo da anulação das especificidades locais, e mesmo sabendo que o sotaque marca o território, pobreza é um problema global, não resolvido pela globalização, talvez resultado dela, em certa medida.

São personagens aleatórios, perdidos na falta de dinheiro e desemprego, fumantes assíduos e usuários de drogas, com seus próprios líderes locais, eleitos pela força, representado pelos traficantes de drogas. O futebol surge como símbolo de unidade e de amenização das diferenças, solo neutro de divergências saudáveis, a válvula de escape. O cotidiano é marcado com sucessão de cigarros e dramas. Quando Joe assume a dívida de Liam e é encarregado de fazer as entregas para o traficante local, não pensa nas drogas em si, ou seja, como um incentivo ao ciclo vicioso do qual seu amigo foi vítima, pensa apenas em salvar a vida dele. Quando Sarah apresenta esse conflito a partir de suas experiências com as conseqüências das drogas, ele anula seu individualismo para retomar o sentido de cidadania. Uma vez cancelado o trato, não há salvação para Liam, ele comete suicídio. Loach coloca no nascimento do filho de Joe o renascimento do mesmo, e a esperança de renovação.

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