domingo, 4 de julho de 2010
Das ruas à pia da cozinha - Realismo social no cinema britânico de 1958 à 1962, por Bruno Alves (parte 1)
– Room at the Top de Jack Clayton (58 ou 59 há controvérsias)
Room at the top pode ser classificado como um filme transicional. Enquanto a história de Joe Lampton e seu desejo de subir na vida à todos os custos exibe elementos que seriam reconhecidos nos futuros filmes do movimento ele ainda se atém à caracteristicas típicas do cinema tradicional britânico dos anos 50.
Joe é um contador atormentado pela divisão social que assola a sociedade britânica. Crescido nos cubículos típicos das comunidades pobres britânicas à todo momento lhe são lembradas as diferenças inerentes relativas aos diferentes berços da vida. Nele existe um desejo de ascensão social que pensa em concretizar através de dois atalhos, duas mulheres distintas. Em uma, mais velha e casada, encontra a compreensão e o amor que lhe ajudam a atravessar o dia a dia. Na outra, jovem herdeira inocente, vê as possibilidades de um futuro bem sucedido aonde suas vitórias não são determinadas pela capacidade financeira de sua família. Determinado em seu objetivo seduz ambas com consequências desastrosas.
Seu verdadeiro amor é Alice, que vive em um casamento destruído pelas constantes escapadas amorosas de seu marido. Alice é uma mulher de personalidade que se vê conquistada pelos avanços de Joe durante momentos de fragilidades. Entre eles nasce um amor verdadeiro empatado pelos segredos inerentes à um caso e dos desejos sociais de Joe. Eles pensam em fugir mas a realidade é avassaladora e a ambição de Joe por demais desmedida. Ambos decidem sacrificar suas vidas por causas diferentes; Joe, finalmente encarando a possibilidade concreta do golpe no baú que tanto planejara decide sacrificar uma vida de dificuldades mas feliz pelos encantos do dinheiro. Alice se vê perdida em uma prisão construída meticulosamente pelo seus ex-marido que se recusa a deixá-la. Seu único suporte emocional lhe deixa e assim também sua vontade de viver. A liberdade e a felicidade que tanto ambicionara nunca lhe chegariam. Joga a sua vida fora para a surpresa de um Joe abasbacado com as próprias escolhas erradas que seu sonho o levou a cometer. O filme termina com um casamento, um emergente e uma herdeira rumando à uma aparente vida de felicidade conjugal. Mas os últimos momentos dos filmes nos permitem enxergar um Joe desmascarado pela sua própria culpa, aonde seus olhos no contam tudo.
O protagonista poderia ser considerado um protótipo dos que viriam a seguir. Sua classe baixa não é sinônimo de ignorância e permitem-lhe enxergar o mundo como o é, uma sangrenta luta de classes. Sua reação é mais fria e sistemática que seus herdeiros. Só permite-se expressar-se de verdade em companhia de Alice. Ou não. Em uma cena o vemos gritando com ela “I'm working class and proud of it”. O que poderia soar como um moto deste movimento cinematográfico pela voz de Joe soa como uma desilusão. Nem ele mesmo acredita em si, senão não tentaria tanto escapar de suas condições que supostamente tanto se orgulha. Enquanto veremos nas outras obras os protagonistas agirem de maneira desesperada e emocional, Joe se esforça em manter-se controlado de toda a forma, mantendo a maquiagem de bom moço necessária ao seu enriquecimento.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário