Na década de 40, ocorreu um fenômeno curioso, em que os mais diferentes diretores e produtores criaram obras cinematográficas que compartilhavam de um estilo único, com personagens ambivalentes e um jogo de sombra e luz de alto contraste. Sendo que ninguém na época tinha combinado algo tipo de movimento artístico que apenas mais tarde ficou conhecido como Noir, um estilo que parece ter sido fruto do inconsciente coletivo da época.
Dentre os vários filmes Noir, um se destaca por ter sido dirigido por um dos maiores diretores de Hollywood, Billy Wilder. O longa, que aqui ganhou o nome de Pacto de Sangue, conta a estória de um vendedor de seguros chamado Neff (Fred MacMurray) que é convencido por uma femme fatale (Barbara Stanwyck) a bolar um plano para fazer o marido desta morrer de um jeito em que cláusula do seguro garanta uma dupla indenização (daí o título original do filme). O filme é narrado em flashback por Neff, o que deixa claro que o plano não terminou muito bem.
Mas nem precisava ser em flashback para quem o assiste saber disso. Pois o filme tem toda uma aura de mal-estar, que é realmente incômoda e pertubadora. Por mais que o plano seja perfeito, fica claro a sensação de que “ a casa vai cair” a qualquer momento. Mesmo sem ter conhecimento que sua obra fazia parte de um estilo único, Billy Wilder parece ter plena compreensão que filmes Noir têm basicamente uma mesma estrutura básica, que não há muito o que inventar em cima, meio como uma canção de Blues que segue uma fórmula certa. O que faz um Noir ser melhor ou pior que outro são os pequenos detalhes, o timing de cada cena e diálogo, tem que ter o “feeling” pra mesclar o andamento com a atmosfera única do estilo. E nisso, Wilder sucede.
A ótima direção é sustentada por boas atuações. Destaque pra Fred MacMurray, que consegue passar uma mistura confusa da necessidade de viver perigosamente e culpa como Neff, que inconscientemente parece querer achar salvação em ser desmascarado. Barbara Stanwyck faz bem seu papel da mulher ardilosa que sabe se fazer de coitadinha, e que é reforçado por uma certa semelhança física com a “original” femme fatate Marlene Dietrich. Mas o destaque é mesmo Edward G. Robinson como Keyes, o investigador da agência de seguros e amigo de Neff, que é interpretado de uma maneira bem divertida porém determinada lembrando Jonnny Depp como Jack Sparrow cheio de maneirismos.
O filme é como um todo excelente, o único porém seria o ritmo demasiadamente lento, notado até mesmo pelos críticos da época, mas é um defeito que meio que se torna uma virtude, pois o espectador compartilha a angústia de Neff, e a sensação de alívio, que tanto custa para chegar, é realmente confortante.
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