quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

“Ria... e o mundo rirá com você. Chore... e chorará sozinho.” por Roberta Dornelas


Não são muitos os filmes asiáticos que conseguem chamar a atenção do público ocidental. O máximo a que chegam, geralmente, é a despertar o interesse de produtores hollywoodianos, que irão então fazer uma refilmagem da obra; e essa, sim, será um estouro nas bilheterias. Talvez seja o caso de Oldboy, do diretor coreano Park Chan-wook. Apesar de ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, não se pode chamar o filme de um grande sucesso dos cinemas - o que, em minha opinião, é uma grande injustiça.

Oh Dae-su (Choi Min-sik) é um quarentão, casado e com uma filha de três anos. O filme começa após uma noite de bebedeira do sujeito, que acaba detido pela polícia e, depois de resolver tudo, sai da delegacia com seu amigo No Joo-Hwan (Dae-han Ji). Porém, enquanto este faz um telefonema, Dae-su desaparece sem deixar pistas. Por quinze anos. O homem é levado para o que parece um quarto de hotel, tendo como companhia apenas uma televisão. A comida lhe é passada por um pequeno buraco na porta. Para que troquem suas roupas e cortem seus cabelos, um gás é liberado e Dae-se é posto para dormir. São quinze anos sem nenhum contato humano e sem saber quando será liberado ou o motivo de seu aprisionamento. Certo dia, de repente, acorda fora do quarto. Recebe roupas, dinheiro, um telefone e um desafio: descobrir quem o prendeu e o porquê. Daí pra frente, o filme é angustiante. Estamos como Oh Dae-su, sem saber o motivo do que aconteceu, sem ter pistas, sem nada. É junto com ele que vamos descobrindo e juntando as peças para entender tudo e ficamos torcendo para que seja desvendado o mais rápido possível todo aquele mistério que tortura tanto a ele quanto a nós – esse seria o primeiro ponto de destaque no trabalho de Park Chan-wook, que soube liberar aos poucos as informações, de forma a não cansar e manter o espectador atento a tudo.

Há quem diga que o filme é muito violento. Mas se pode chamar de muito violento um filme onde nada é explícito? Tudo é sugerido, mas nada é mostrado. Por exemplo, na cena onde o protagonista tortura um dos envolvidos em sua prisão arrancando os dentes do homem com um martelo. Vemos apenas o início do processo e depois a conseqüência – os dentes já arrancados. Ou ainda quando Oh Dae-su corta a própria língua. Só podemos ver a mão dele fechando a tesoura enquanto grita de dor. Então, sim, há muita violência. Mas eu não o consideraria um filme extremamente violento. É apenas, como já falei antes, angustiante.

As cenas de luta são um ponto de destaque, uma delas em especial: aquela onde Dae-su vence cerca de vinte capangas num plano-sequência lateral. Parece cena de algum jogo de vídeo-game. Nenhuma luta é teatral ou com belas coreografias como as que vemos em outros filmes asiáticos – como O Clã das Adagas Voadoras – ou até em filmes americanos como Matrix. É tudo cru. Quando as pessoas apanham, não voam ou saem de cena para dar lugar a outros lutadores; elas ficam lá no chão se contorcendo de dor e atrapalhando o cenário da briga mesmo. Pode parecer meio cruel, mas, para mim, isso deu até um toque cômico à cena. E o melhor é ver a cara de vitória de Oh Dae-su no final de tudo.

Outro ponto interessante é a inexistência de mocinhos e bandidos. Apesar de torcermos para que a vida de Oh Dae-su se ajeite, não podemos considerá-lo realmente um herói. Ali, estão todos dispostos a matar e a morrer por seus objetivos. O protagonista acaba descobrindo que o motivo de sua prisão foi ter espalhado, quando ainda estava na escola, que certa moça estava grávida do irmão dela. Isso a teria levado ao suicídio. O irmão dela, ___, resolve, então, vingar-se de Oh Dae-su e o prende. Ou seja, Dae-su está se vingando porque ___ resolveu se vingar pela morte da irmã. Todos têm objetivos parecidos e querem matar aquele que arruinou sua vida. Não há julgamento de valores ou distinção de certo e errado em Oldboy. Park Chan-wook simplesmente nos mostra os fatos e cabe a nós julgá-los. Podemos tanto achar que Dae-su está certo quanto que __ é quem tem razão.

Além da direção brilhante, não imagino como seria o filme sem Choi Min-sik. O ator, que treinou por seis semanas e perdeu doze quilos para interpretar o Dae-su, encarnou perfeitamente o papel de inocente e assassino, vítima e psicopata ao mesmo tempo. Ainda teve que lutar e comer um polvo vivo. E realizou todas as cenas, sem nenhum dublê.

Oldboy foi baseado em um mangá japonês de 1997 e é o segundo filme da chamada “trilogia da vingança” de Park Chan-wook. Foi precedido por Mr. Vingança (2002) e seguido por Lady Vingança (2005). É um filme para todos os gostos. Não é ultraviolento, mas também não é leve. Não é um filme vazio, mas não é só para intelectuais. É apenas uma prova de que devemos dar mais atenção ao cinema asiático e não ficar esperando um remake hollywoodiano - que duvido que tenha a emoção e a peculiaridade do original.

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