quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

"O criado" por Bernardo Cortizo de Aguiar


Dirigido por Joseph Losey, americano radicado em Londres, fugido da perseguição da era McCarthy, “O Criado” retrata as vidas e relações entre empregado e empregador, entre aristocracia e plebe. Tony (James Fox) é um jovem nobre inglês em busca de um criado para auxilia-lo em sua nova residência. Hugo Barret (Dirk Bogarde) parece ser o homem perfeito para o serviço: discreto, eficaz e subserviente, ele é logo contratado e executa suas tarefas com maestria.

Entre os dois, apesar de claro a distinção entre patrão e servidor, desenvolve-se uma espécie de laço silencioso: Tony o trata com respeito e dignidade, em troca Barret preza pelo bem-estar do nobre e de sua casa. Infelizmente Susan (Wendy Craig), a noiva de Tony, é mais conservadora e arrogante quanto aos papéis sociais de cada um, alfinetando sempre que possível o mordomo e pedindo a Tony para não confiar nele, chegando até mesmo a ser cruel em seus comentários.

Barret aparenta não se incomodar com os comentários, mas aos poucos vê-se que ele não se conforma realmente a ocupar um papel social que lhe foi arbitrariamente atribuído: seja fumando e bebendo cerveja escondido na cozinha, seja convencendo Tony a deixar Vera (Sarah Miles), sua suposta irmã, a trabalhar como governanta na casa. Vera é na verdade noiva de Barret, mas é também interesseira ao extremo: quando os dois dizem a Tony que precisam visitar a mãe moribunda, para na verdade terem o dia só para eles, Vera fica para trás para seduzir o patrão numa das mais inocentes cenas de sedução da história (cortesia do falso moralismo e puritanismo da época).

Quando Susan e Tony pegam Vera e Barret na cama, tudo vem à tona e todos se separam. O nobre iglês se perde no alcoolismo até Barret, arrependido mas também mudado, implorar por seu emprego de volta, o que acaba tornando a relação entre os dois mais íntima e estranha: Tony está num estado tão deplorável que chega a ser infantil muitas vezes e Barret, mais do que nunca, se impõe frente ao patrão, numa relação de mútua necessidade.

Os ângulos das cenas seguem o padrão da época, nada que chame a atenção por sua inovação, mas a montagem da película tem seus momentos: em um deles, enquanto Tony e Susan vão almoçar num restaurante, Barret vai pegar Vera na estação para depois passearem pela cidade. Alternando entre os dois casais, cria-se certa tensão, dando a impressão de que, a qualquer momento, Barret e Vera entrarão no restaurante e o caminho dos dois casais se cruzará.

A trilha sonora não é especialmente marcante, embora seja interessante notar que, toda vez que procura seduzir uma mulher, Tony escolhe mesma canção para tocar. Quanto à atuação, o problema maior é o tabu levantado pelas cenas mais, digamos assim, picantes: impossibilitado de fazê-las, Losey acaba limitando a capacidade de interpretação de seus atores, ferindo o realismo intencionado num drama psicológico, deixando-o com uma cobertura menos madura que a desejada.

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