Passageiro. Profissão: Reporter (EUA, 1975) conta a história de David Locke, jornalista de ética duvidosa que está cobrindo guerras na África para alguma TV americana. Como o próprio Antonioni atesta, o filme é sua obra estilisticamente mais madura e todos o lembram por sua cena final, um plano seqüência de 7 minutos, que apresenta uma situação de ação clara de modo super sutil, apresentando apenas pistas do que está acontecendo. Jack Nicholson faz o personagem principal e está deprimido com sua vida, se sentindo solitário, entediado em sua condição de estrangeiro. Ao contrapor o ofício do personagem principal, noticiar uma determinada região de forma coesa, com a total bagunça que é sua vida, o filme consegue seu trunfo: agregar e transcender a discussão moral do tema (a ética jornalística) ao partir para o plano pessoal, muito mais interessante do ponto de vista cinematográfico.
Pela natureza da profissão, que é lidar com a representação realidade, inúmeros filmes já tiveram o jornalismo como ponto de partida. Todos os homens do presidente (1976), de Alan J. Pakula, coloca-o em condição de herói, tendo como base uma história verídica, que é o caso Watergate; Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, tornou-se um filme revolucionário contando a saga de um jornalista que domina boa parte dos meios de comunicação dos EUA; Meu Adorável Vagabundo, de Frank Capra, contrapõe a ética jornalística e a sua função social; e em Paixões que Alucinam (1962), de Samuel Fuller, um jornalista se traveste de louco e vai para um hospício tentar solucionar um caso de assassinato.
Todas essas obras citadas mostram o repórter como uma figura determinada, quase sempre obsessiva em busca da notícia (ou do sucesso), e se utilizam dele para discutir a sociedade contemporânea. O filme de Antonioni não é diferente, por não estar alheio a questões políticas (na verdade, é uma crítica ferrenha ao universo televisivo e suas redundâncias), mas o personagem principal tem características diversas do padrão. Locke é vacilante, está à deriva. Descontente com sua vida, começa a envolver-se em coisas que não dizem respeito a sua profissão e, imbuído em objetividade pontual, não consegue ver as coisas de fora, contextualizadas. Algumas das entrevistas por ele realizadas são inseridas na trama em flashback. Em uma delas, um líder guerrilheiro com arma em punho inverte a posição da câmera, colocando Locke em evidência: “Suas perguntas revelam mais sobre você do que sobre mim”.
Uma torre de Gaudi é utilizada para ilustrar um encontro de Locke e seu affair, uma estudante de arquitetura interpretada por Maria Schneider (O Último tango em Paris). Uma construção cheia de labirintos, lacunas que dizem do próprio filme, para um relacionamento que teria de ser resolvido de uma maneira difícil. A África é enquadrada vazia, desértica. E no fundo, se mostra um pano de fundo perfeito, que não representa quase nada para o personagem principal, passageiro em uma terra em conflito que nada lhes diz respeito, apesar de sua função social de jornalista. É a representação do próprio continente para o mundo, lembrado por seus conflitos e esquecida por seus colonizadores.
A opção pelo silêncio verbal e imagético faz contraposição à obsessão jornalística pela notícia, que quase inexiste na película. Antonioni, com seu cinema moderno, relativiza, com o aparato da linguagem, diversas questões polêmicas que existem no universo jornalístico (se utilizando inclusive da estética do telejornalismo para faze-lo). A narrativa se conclui, existe uma história que se fecha, mas ela não é mostrada explicitamente. O que existe é um fado inevitável vivido por um ser humano incompreendido, desenhado por vazios gritantes e resolvido arquitetonicamente.
Pela natureza da profissão, que é lidar com a representação realidade, inúmeros filmes já tiveram o jornalismo como ponto de partida. Todos os homens do presidente (1976), de Alan J. Pakula, coloca-o em condição de herói, tendo como base uma história verídica, que é o caso Watergate; Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, tornou-se um filme revolucionário contando a saga de um jornalista que domina boa parte dos meios de comunicação dos EUA; Meu Adorável Vagabundo, de Frank Capra, contrapõe a ética jornalística e a sua função social; e em Paixões que Alucinam (1962), de Samuel Fuller, um jornalista se traveste de louco e vai para um hospício tentar solucionar um caso de assassinato.
Todas essas obras citadas mostram o repórter como uma figura determinada, quase sempre obsessiva em busca da notícia (ou do sucesso), e se utilizam dele para discutir a sociedade contemporânea. O filme de Antonioni não é diferente, por não estar alheio a questões políticas (na verdade, é uma crítica ferrenha ao universo televisivo e suas redundâncias), mas o personagem principal tem características diversas do padrão. Locke é vacilante, está à deriva. Descontente com sua vida, começa a envolver-se em coisas que não dizem respeito a sua profissão e, imbuído em objetividade pontual, não consegue ver as coisas de fora, contextualizadas. Algumas das entrevistas por ele realizadas são inseridas na trama em flashback. Em uma delas, um líder guerrilheiro com arma em punho inverte a posição da câmera, colocando Locke em evidência: “Suas perguntas revelam mais sobre você do que sobre mim”.
Uma torre de Gaudi é utilizada para ilustrar um encontro de Locke e seu affair, uma estudante de arquitetura interpretada por Maria Schneider (O Último tango em Paris). Uma construção cheia de labirintos, lacunas que dizem do próprio filme, para um relacionamento que teria de ser resolvido de uma maneira difícil. A África é enquadrada vazia, desértica. E no fundo, se mostra um pano de fundo perfeito, que não representa quase nada para o personagem principal, passageiro em uma terra em conflito que nada lhes diz respeito, apesar de sua função social de jornalista. É a representação do próprio continente para o mundo, lembrado por seus conflitos e esquecida por seus colonizadores.
A opção pelo silêncio verbal e imagético faz contraposição à obsessão jornalística pela notícia, que quase inexiste na película. Antonioni, com seu cinema moderno, relativiza, com o aparato da linguagem, diversas questões polêmicas que existem no universo jornalístico (se utilizando inclusive da estética do telejornalismo para faze-lo). A narrativa se conclui, existe uma história que se fecha, mas ela não é mostrada explicitamente. O que existe é um fado inevitável vivido por um ser humano incompreendido, desenhado por vazios gritantes e resolvido arquitetonicamente.
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