sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

"A vida cantada com amor", por Aline Mariz


Quando se perde alguém que se ama, mesmo que já – aparentemente – no fim de um relacionamento, o que é que sobra? O que é que falta? Perguntas como essas surgem, principalmente, a partir dos primeiros trinta minutos de filme – parte que se intitula “A partida” -, no momento em que a namorada de Ismael (Louis Garrel), Julie (Ludivine Sagnier), sofre uma parada cardíaca repentina e morre.
Les chansons d’amour (2007), de Christophe Honoré, é um musical francês que trata muito mais de amor e dos caminhos que a vida pode seguir após uma morte, do que um drama que teria como motor esta tragédia. Em seus pouco mais de noventa minutos, divide-se em três partes, cada uma com canções voltadas para suas temáticas: I – A Partida, II – A Ausência, III – O Regresso. Não é um musical espalhafatoso, pelo contrário: suas canções são carregadas de sinceridade e naturalidade, tanto que não fosse por certo ritmo dado, tudo poderia ser facilmente confundido com um diálogo entre os personagens.
Ismael e Julie passam por certo sufocamento (de modo aparente) a partir do momento que trazem uma terceira pessoa para a relação, Alice (Clotilde Hesme). De ambas partes, sente-se um desconforto e insegurança, apesar da concordância na decisão de ser um ménage a tròis. Muitas coisas são ditas, jogadas – quando talvez nem se quisesse -, e outras tantas passam caladas, sem esclarecimentos. O ponto importante aqui é mostrar a importância de viver, sentir; amor não foi feito pra ser questionado ou entendido. É um filme de relacionamentos entre as pessoas: verdadeiro.
A câmera, sempre atrás ou simplesmente acompanhando o andar dos personagens, corre e balança em tons cinzas e azulados por Paris. Numa de suas andanças e pensamentos sobre Julie, Ismael conhece Erwann (Grégoire Leprince-Ringuet), que encherá ainda mais sua cabeça de dúvidas. Mas, ao mesmo tempo, Erwann consegue mostrar para Ismael uma nova forma de viver, de sentir e demonstrar o amor.

Para quem não conseguia sequer dizer ‘eu te amo’ para quem ele posteriormente descobre ter sido o grande amor da sua vida, Ismael, na última canção do filme, aceita a palavra e os gestos do amor – devido aos caminhos que percorreu até e com Erwann. Suas últimas palavras são, além de extremamente tocantes, resumos de seus medos e desejos: “Ama-me menos, mas ama-me por muito tempo”.

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