quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Medeia, de Pier Paolo Pasolini, por Joelton Alves e Silva


Entre muitos de seus escritos sobre cinema, Pasolini certa vez discursou sobre montagem cinematográfica, em “Observações sobre o plano-sequência”:
[a montagem mostra] uma multiplicação de ‘presentes’, como se uma ação, em vez de se desenrolar uma única vez diante dos nossos olhos, se desenrolasse várias vezes. Esta multiplicação de ‘presentes’ abole, na realidade, o presente, esvazia-o, postulando a cada um dos presentes a relatividade dos outros, o seu imprevisto, a sua imprecisão, a sua ambiguidade.

Em Medeia, Pasolini apresenta o trágico como o conflito entre razão e sentimento existente no interior do homem. Nota-se que o filme tem duas partes principais: antes e depois da segunda aparição do Centauro. Após essa cena, há o encontro entre o texto de Eurípides e o de Pasolini e o filme se assemelha a tragédia de Eurípides.

No início do filme de Pasolini, o personagem Centauro discursa para o espectador e para Jasão, em três fases da vida dele: na infância, na adolescência e depois na sua vida adulta. Na primeira cena, o Centauro narra para o menino o mito do velocino de ouro. Na segunda, o Centauro afirma: “tudo é santo! Não há nada de natural na natureza. Quando a natureza te parecer natural, isso será o fim de tudo e o começo de outra coisa”


Na terceira cena, o Centauro expõe para Jasão o significado “para o homem antigo” do mito e dos rituais. Em seguida, o Centauro diz a Jasão que ele deverá ir até o tio dele, Pélias, para recuperar seu reino e que, para isso, o tio imporá a ele “uma empresa heróica”: recuperar o velocino de ouro. Com o objetivo de realizar a tradução para o cinema da tragédia Medéia, de Eurípides, Pasolini desconstruiu as ideias formadas pelo pensamento moderno acerca das obras trágicas, que geralmente as reduz a melodramas que apelam para sentimentos de simpatia ou de antipatia.

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