Logo no início temos imagens em preto e branco de um garoto correndo e um homem que arremessa algo no chão. Arrisco dizer que, essas imagens buscam também, dentro do contexto do filme criticar aqueles que veem no cinema um passatempo, espectadores que estão perdendo o encanto por essa arte. Após alguns letreiros e essas imagens, o filme se inicia com uma plateia dormindo no cinema. O som que sai do filme acaba passando pelas paredes do cinema e acorda alguém que dormia em um quarto. Esse, digamos ‘’dorminhoco’’, é o diretor, Leos Carax.
Em seguida, ele busca saber de onde vem esse som e somos presenteados com uma cena surreal e descobrimos que ele estava apenas a uma parede da sala de cinema. Podemos pensar que esse cinema que nos provoca uma indiferença com que se passa na tela, nos faz entrar em um estado letárgico e assim faz com que nosso diretor reflita, ora nostalgicamente, ora tentando elaborar um filme de vanguarda, fazendo com que pensemos como estamos vivendo um cinema ‘’mais pobre’’ e como os cineastas devem também pensar no que fazer para realizar um cinema novo.
Logo depois desse momento surreal somos apresentados ao Sr.Oscar (Denis Lavant), que após se despedir aparentemente de sua família, vai trabalhar. Só que seu trabalho é acompanhado por uma motorista, que dirige uma limusine, que o leva a vários locais de Paris, para ele se transformar em outra pessoa, ou porque não dizer, em outro personagem. A partir desse momento entramos na montanha russa que é a vida do Sr.Oscar. Como sua motorista lhe diz, neste dia ele terá nove encontros.
Cada um desses encontros, ele será outra pessoa, e cada encontro podemos tentar desvendar o que nosso diretor quer nos passar. Na verdade acho que aqui não cabe uma única interpretação, e sim várias. Cada espectador pode interpretar da maneira que quiser, pois na verdade ele quer nos provocar a pensar e sair daquele estado letárgico de que falei. Então, embarcamos em pequenas histórias que podem significar muito, pouco ou até nada. Logo no início a senhora pedinte diz que está cansada de olhar para o chão. Talvez, seja aí uma crítica aos cineastas que não conseguem vislumbrar algo maior em termos de cinema, acabam repetindo fórmulas e realizando um tipo de arte repetitiva, os famosos: ‘’clichês’’.
Vemos muito esses tipos de filmes, que não mexe com nossos neurônios e passamos o filme todo olhando para aquela imensa tela, sem demonstrarmos qualquer tipo de emoção. Logo adiante temos a parte do filme que aborda um pai a busca de sua filha em uma festa. Após um intervalo que nos apresenta uma canção excelente e mais uma história, temos a conversa com o homem da marca da nascença - um dos melhores diálogos do filme. Quando Oscar e ele conversam, fala-se muito do poder de interpretar alguém. Ofício, em minha opinião, difícil. Aborda que o ator não está conseguindo que os espectadores acreditem mais em cada papel. Ainda se pergunta o porquê de Oscar continuar atuando. E a resposta é excelente: A beleza do gesto. Realmente, quando há uma boa atuação ficamos maravilhados. Mas há uma contra resposta. A beleza está nos olhos de quem a vê e se ninguém a vê? Nesse diálogo vejo duas considerações: A primeira a respeito da atuação do ator, como já citei, e a segunda referente a espectadores que não conseguem enxergar além de uma projeção sobre uma tela grande. O cérebro se desliga ao assistir a filmes. É apenas um momento para relaxar e dessa maneira, não se consegue enxergar a beleza do gesto de atuar.
Quem realmente ama o cinema, não pode ficar embriagado com aquelas imagens, não pode ficar passivo com tudo que está assistindo. Pois, o cinema é muito mais que um simples passar de tempo. Para mim, Holy Motors foi uma ótima experiência cinematográfica! Uma homenagem ou uma crítica ao cinema? Muito provavelmente as duas coisas, e esse é um dos pontos mais marcantes dessa obra, Holy Motors não se resume em um único ponto de vista e nos permite várias leituras, fazendo alusões ao consumismo, ao conformismo deprimente, ao vazio existencial, a frieza das relações, e sem falar nas máscaras que o homem moderno se vê obrigado a usar para se "encaixar" numa sociedade devidamente amparada e iludida pela tecnologia, mídia e indústria. Oscar é, ao mesmo tempo, todos e ninguém; aliás, muito impressionante a atuação de Denis Lavant, uma das mais incríveis que já vi! Também são impressionantes como tantos simbolismos foram traçados de forma surreal, mística e subversiva em um único personagem. Muitas informações e muitos significados, mas talvez o significado maior seja sua metalinguagem, que, pelo menos a meu ver, mostrou o quanto o cinema atual (a maioria comercial) reflete esse tal vazio existencial (e por que não intelectual?) que consome o homem moderno.
o cara que ta pelado pareçe um Jesus que ta drogrado no colo de uma Maria novinha!!Marcos Punch.
ResponderExcluir