Vemos quase tudo, enxergamos quase nada,
escutamos quase tudo, não nos interessa nada.
Uns por muito, outros por nada.
Tatiana Quintero.
Terra
do silêncio e da escuridão é um filme de Werner Herzog, que sempre foi
associado com o cinema novo alemão e que já tinha uma relativamente bem reconhecida
carreira quando decidiu fazer este documentário que trata sobre os surdos-cegos.
O diretor logra entrar na vida e na
intimidade desta comunidade de um jeito natural, e não digo isto porque afirme
que os surdos-cegos pertençam a uma comunidade fechada, senão porque já foram
exibidos filmes que mostram a impossibilidade de ver e escutar com
superficialidade e sensacionalismo.
Que é o caso contrário de Terra do silêncio e da escuridão, que
desde seu primeiro plano foi uma proposta direta, sem espaço para rodeios ou
introduções tranquilas que fariam com que o espectador fosse caindo na
sensibilidade aos poucos. Inversamente, Herzog tenta reproduzir por meio de
imagens o que seria a representação de um cinema cego, é dizer com uma tela
preta em sua totalidade junto com uma narração da personagem principal que é a
que vai direcionando o percurso e o desenvolvimento do filme.
Acompanhar com a imaginação a
descrição que Fini Straubinger faz para detalhar como ela pintaria um quadro
onde estivesse refletida a condição de cegueira é muito inspirador e tocante,
principalmente quando começa apontando que seria “um rio negro fluindo
lentamente como uma suave melodia”. Straubinger porta esta incapacidade, mas
não sempre foi assim, ela sofreu uma queda quando tinha nove anos de idade e
parcialmente foi perdendo o sentido da vista e a escuta. Passou quase 30 anos
em cama quando decidiu se levantar e lutar por uma melhor comunicação e
evoluções dentro do meio e junto aos seus pares.
Quando o documentário é assistido por
um público que não tem muito contato ou que nunca criou laços por perto com
pessoas surdas ou cegas, de certa forma representa novas descobertas em relação
a línguas e formas de se comunicar entre eles, que não são muito divulgadas e
também não muito procuradas. Às vezes pode parecer que é forte demais, que é
chocante na sua expressão audiovisual, mas repensando os modos como Herzog
mostra as situações e personagens, é consequente e aberta.
Penso, contudo, que o diretor exagera
em planos muito longos para exibir um comportamento, como por exemplo, quando
mostra Vladimir Kokol, surdo-cego de nascença. O jovem de vinte e dois anos não conseguia
caminhar, nem mesmo se equilibrar bem. Este
plano sequência tão duradouro pode chegar a incomodar, principalmente porque se percebe a informação logo nos primeiros
momentos, o demais me parece um prolongamento desnecessário.
Em termos dos espaços onde foi filmado
e a iluminação que foi procurada, encontramos um estilo bem naturalista, o
diretor talvez quisesse chegar ao ponto de menor tratamento nos aspectos
técnicos no documentário, sem descambar para o descuido da visual e do som. Na
escolha dos planos com que trabalhou mostrou preocupação por captar as reações
das personagens, com a frequente utilização de primeiros planos nos rostos e
fechados nas mãos.
Quando assisti ao filme pela
primeira vez, tive a sensação constante de incômodo e um desejo de abandoná-lo.
Posteriormente dei-me conta que foi um filme que me jogou fora da minha zona de
conforto, me fez tomar posição sobre um tema que não é comumente trabalhado e
uma verdadeira vontade de ir além do documentário e pesquisar um pouco mais.
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