Mostrando postagens com marcador herzog. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador herzog. Mostrar todas as postagens

sábado, 14 de fevereiro de 2015

"Os anões também começaram pequenos", por Nuno Aymar




O cinema alemão deixou um grande legado no que se refere às temáticas do grotesco, pitoresco ou simplesmente daquilo nos provoca repulsa desde o expressionismo. Herzog assumiu essa herança ao revisitar esses temas e de aprofundá-los na perspectiva de um cinema moderno e capaz de penetrar por alegorias mais complexas, sendo Os anões também começaram pequenos, o mais radical dos seus trabalhos nesse aspecto.
O filme usa de uma linguagem bastante alegórica e de humor negro, criando um micro universo onde só existem anões (muitas vezes deformados) e moralmente repulsivos. Existe uma discussão latente ao longo do filme cujo coloca a natureza como um lugar de caos, refletindo a própria ideia de sociedade humana. Herzog desenvolve uma antirrealidade que nos aproxima daquilo que seria um estado perverso de natureza. A natureza se torna em si um lugar de desordem e no decorrer do filme uma série de planos vai revelando, pelos próprios animais, o que a sociedade humana considera repulsivo: Uma galinha que devora a outra, porcos amamentando na mãe morta; cada momento do filme é pontuado por esse jogo entre imagens “da natureza” e a sociedade dos anões. Além disso, o filme ainda apresenta um descompasso estilístico. As blasfêmias nos chocam com seu humor estranho, muitas vezes infantil, trabalhando o caos alegórico em cenas de puro nonsense.

O filme se define pela sua capacidade de provocar o estranhamento sob si mesmo, não sendo o mesmo estranhamento recorrente em outros filmes de Herzog,  tratando mais de inverter essa relação e perceber como lidamos ao ver os elementos que só nos existem enquanto objetos de repulsa.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

"Terra de Silêncio e Escuridão", por Guilherme David Silva Carvalho


Em Terra de Silêncio e Escuridão, Werner Herzog nos apresenta Fini Straubinger, que perdeu a visão e a audição ainda na adolescência. Sua história nos é contada através de uma conversa entre ela e duas senhoras que são portadoras da mesma deficiência. Por meio de um interessante instrumento – as suas mãos – elas conseguem se comunicar.
            Fini Straubinger conta como perdeu a visão, depois de uma queda da escada e dois anos depois perdeu a audição. Devido à debilidade ficou acamada por vários anos, até que, por uma dose de força de vontade surpreendente, ela passou a ajudar pessoas que vivem em situação semelhante a sua.
            O documentário é uma verdadeira lição de humanidade. A personagem principal é um legítimo instrumento para levar luz à escuridão e sons ao silêncio, medidas as proporções. Através dela, nos são apresentados outros portadores das mesmas deficiências, mostrando um mundo de solidão, onde as possibilidades de comunicação são quase inalcançáveis.
            Tudo é muito bem explorado por Herzog: um encontro de Fini e seus colegas, com direito a uma declamação de poesia e um passeio por um jardim com cactos. Dessa forma, o mundo vai apresentando maior amplitude através das descobertas.

            Fini Straubinger cruza o seu país para levar, com um grande comprometimento, acolhida e atenção para seus semelhantes. Mais uma vez Herzog trabalha, como se pode ver em toda a sua obra, seja ficção, seja documentário, com personagens outsiders, que estão de certa forma à margem da sociedade, muitas vezes por inadequação. No caso de Terra de Silêncio e Escuridão, temos uma limitação física, e, antes de tratar apenas dessa limitação ou marginalização, Fini Straubinger aparece como um meio que tenta transcender esses problemas.

“A terra do silêncio e da escuridão, lá só pode emanar um rio negro”, por Tatiana Quintero

Vemos quase tudo, enxergamos quase nada,
escutamos quase tudo, não nos interessa nada.
Uns por muito, outros por nada.
Tatiana Quintero.


           Terra do silêncio e da escuridão é um filme de Werner Herzog, que sempre foi associado com o cinema novo alemão e que já tinha uma relativamente bem reconhecida carreira quando decidiu fazer este documentário que trata sobre os surdos-cegos.
            O diretor logra entrar na vida e na intimidade desta comunidade de um jeito natural, e não digo isto porque afirme que os surdos-cegos pertençam a uma comunidade fechada, senão porque já foram exibidos filmes que mostram a impossibilidade de ver e escutar com superficialidade e sensacionalismo.
           Que é o caso contrário de Terra do silêncio e da escuridão, que desde seu primeiro plano foi uma proposta direta, sem espaço para rodeios ou introduções tranquilas que fariam com que o espectador fosse caindo na sensibilidade aos poucos. Inversamente, Herzog tenta reproduzir por meio de imagens o que seria a representação de um cinema cego, é dizer com uma tela preta em sua totalidade junto com uma narração da personagem principal que é a que vai direcionando o percurso e o desenvolvimento do filme.         
            Acompanhar com a imaginação a descrição que Fini Straubinger faz para detalhar como ela pintaria um quadro onde estivesse refletida a condição de cegueira é muito inspirador e tocante, principalmente quando começa apontando que seria “um rio negro fluindo lentamente como uma suave melodia”. Straubinger porta esta incapacidade, mas não sempre foi assim, ela sofreu uma queda quando tinha nove anos de idade e parcialmente foi perdendo o sentido da vista e a escuta. Passou quase 30 anos em cama quando decidiu se levantar e lutar por uma melhor comunicação e evoluções dentro do meio e junto aos seus pares.
          Quando o documentário é assistido por um público que não tem muito contato ou que nunca criou laços por perto com pessoas surdas ou cegas, de certa forma representa novas descobertas em relação a línguas e formas de se comunicar entre eles, que não são muito divulgadas e também não muito procuradas. Às vezes pode parecer que é forte demais, que é chocante na sua expressão audiovisual, mas repensando os modos como Herzog mostra as situações e personagens, é consequente e aberta.
            Penso, contudo, que o diretor exagera em planos muito longos para exibir um comportamento, como por exemplo, quando mostra Vladimir Kokol, surdo-cego de nascença.  O jovem de vinte e dois anos não conseguia caminhar, nem mesmo se equilibrar bem.  Este plano sequência tão duradouro pode chegar a incomodar, principalmente porque  se percebe a informação logo nos primeiros momentos, o demais me parece um prolongamento desnecessário.
            Em termos dos espaços onde foi filmado e a iluminação que foi procurada, encontramos um estilo bem naturalista, o diretor talvez quisesse chegar ao ponto de menor tratamento nos aspectos técnicos no documentário, sem descambar para o descuido da visual e do som. Na escolha dos planos com que trabalhou mostrou preocupação por captar as reações das personagens, com a frequente utilização de primeiros planos nos rostos e fechados nas mãos.
            Quando assisti ao filme pela primeira vez, tive a sensação constante de incômodo e um desejo de abandoná-lo. Posteriormente dei-me conta que foi um filme que me jogou fora da minha zona de conforto, me fez tomar posição sobre um tema que não é comumente trabalhado e uma verdadeira vontade de ir além do documentário e pesquisar um pouco mais.
              
           




"O Enigma de Kaspar Hauser" - Herzog, Werner (Alemanha, 1974), por Jennifer Silva

  
Uma pequena sinopse poderia ser esta: garoto é criado em um porão, longe de qualquer contato com outro ser humano, até um dia, já adulto, é finalmente libertado. Sem saber falar, andar ou sua própria identidade é levado para a cidade, onde é objeto de curiosidade e desprezo pela população local.
   O enigma de Kaspar Hauser conta a história de um homem que desde seu nascimento foi mantido em cárcere, sendo privado de uma "vida", sem contato com a sociedade. Graças a isso Kaspar não desenvolvera a sua linguagem, não conseguia andar e nem se comunicar, após ser retirado do lugar no qual foi mantido preso durante sua vida toda, foi deixado em uma cidade, onde causou grande estranhamento nos cidadãos locais por sua forma de agir. O mais interessante no filme, além de observar a evolução do personagem, é perceber como a educação tardia que lhe foi oferecida  agiu na moldagem de uma concepção diversa do mundo.

   A partir do filme podemos tirar muitas lições, entre as quais, aquela que afirma que o homem para ser o que é, necessita ter contato com outros homens. Ele por si só, é apenas um animal, tão quanto todos os outros. Outra poderia ser que o homem é o único animal que mesmo ficando como Kaspar Hauser, sem contato com a sociedade, mesmo demorando, aprende as primícias do homem, o falar, o raciocinar. Uma história que causa muita reflexão sobre o humano em nós. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

"Do silêncio e da escuridão, o que resta é sentir", por Amanda Guimarães



                Land des Schweigens und der Dunkelheit, título original do longa-metragem lançado em 1971 por Herzog, dedica-se a mostrar, a partir de cenas reais, um pouco da vida das pessoas que sofrem de deficiência auditiva e visual. No início do filme, o público é apresentado a Fini Straubinger, senhora já de idade avançada que, depois de um acidente ocorrido na infância, perdeu gradativamente os dois sentidos mais fundamentais para o contato com o mundo exterior. Depois de anos mergulhada num isolamento profundo, Fini reaprende a interagir com o que a rodeia. O que se vê nesta película de Herzog é a Sra. Straubinger vivenciando as mais diversas situações com outras pessoas que partilham da mesma condição que ela.
            Entre imagens gravadas para o filme, fotos de arquivo e raras vozes em off, esta obra de Herzog é capaz nos transportar, de fato, para um outro mundo. A incapacidade de ouvir e enxergar dos personagens expostos em tela parece se converter numa solidariedade quase palpável que aperta o miocárdio de quem assiste ao filme. Cada nova história contada faz crescer o descompasso que guia o expectador por um caminho de surpresas e agonias pulsantes que surgem ao longo do documentário de Herzog.
            Surpreendentemente, este não acaba por ser um filme melodramático e piegas – caminho óbvio que o diretor alemão poderia ter seguido; apesar da temática difícil e comovente, o documentário consegue transmitir algo do que existe além do silêncio e da escuridão: um mundo ocupado por ruídos, rastros de cor e, inevitavelmente, solidão. O que se vê ao assistir ao filme são histórias que, mais do que entristecer, desconcertam; tiram do lugar comum, fazem a visão enturvecer e um zunido abalar a consciência. Talvez pela sua personalidade, talvez pelo sucesso que teve em se readaptar à sua nova condição, Fini consegue trazer o expectador para o seu mundo de forma contida e impactante na medida certa.
            Na escolha dos planos que compõem o filme, Herzog parece ter sido muito feliz: planos longos em que a câmera ora mostra uma visão geral, ora se deixa levar pela curiosidade e atenção do expectador, muitas vezes se transformando num plano detalhe que mostra exatamente aquilo que se quer ver. Na cena em que o jovem Harald, surdo-mudo de nascença, entra numa piscina, não existe corte entre o plano em que o mostra de corpo inteiro descendo pela escada e o momento em que se vê Fini e sua intérprete à beira da piscina: tudo se dá através do movimento de câmera associado ao zoom.
           
Ao final do filme de Herzog – quando se lê uma frase graficamente sem assinatura, porém mental e inevitavelmente atribuída aos personagens do filme –, se tem a certeza de ter apreciado uma obra de arte. Não se trata de um documentário comum. Não se trata apenas de um documentário sequer, na verdade. Terra do Silêncio e da Escuridão acaba por transformar-se num ensaio sobre a sensibilidade e incomunicabilidade humana, atravessado por aproximações improváveis. Sentimos nossa mão tocada pelos personagens – talvez pela repetição desta cena ao longo do filme –, como forma de convite à descoberta e interação.

domingo, 7 de novembro de 2010

"O Enigma de Kaspar Hauser", por Lucas Freire Rafael


Façamos um teste: imagine uma situação bizarra, curiosa e única, algo que você jamais ouviu falar muito menos presenciou. Pronto, pensou? Imaginou? Tenha certeza que Werner Herzog já pensou algo igual ou mais obscuro e muito provavelmente já exista um filme que trate do tema. Baseado em fatos reais, o filme O Enigma de Kaspar Hauser é uma prova disso. Como reagir diante de um ser já adulto que não lê, escreve nem sequer fala? Que nunca aprendeu funções básicas do ser humano como andar e gesticular? E que jamais entrou em contato com outro ser humano? Herzog reúne todas essas questões curiosas e singulares num único filme e personagem e com isso, aproveita para nos propor uma visão diferente e mais profunda da sociedade. E você? Como reagiria?

No ano de 1829, um velho encapuzado à lá Zé do Caixão cria, desde o seu nascimento, um rapaz que supostamente é seu filho. Por algum motivo não revelado, este velho o prendeu, logo após seu nascimento, num calabouço e lá o deixou. Amarrado pela cintura e sem entrar em contato com ninguém mais, o senhor encapuzado o mantém preso, em condições precárias de alimentação e de higiene. É comum imaginar que tal velho deva ter algum distúrbio mental, seja louco, maníaco ou qualquer coisa do gênero, mas não, isso não procede. Não é possível dizer o porquê mais algo naquele senhor transparece o contrário, ele me parece ser lúcido e equilibrado. Maldade também é algo que não enxergo neste velho. Imagino que tais atitudes dele tenham um propósito bem mais obscuro do que simples loucura ou malícia.

Logo ao início do filme, depois que vimos do que se trata aquele enclausurado, o senhor que o cria dá início a trama: ele, rapidamente, faz ensinamentos breves de como escrever e falar algumas poucas palavras, se manter ereto e andar, em seguida ele o leva para uma rua qualquer da cidade de Nuremberg. Neste ponto temos a trama instalada: um ser adulto que não possui nenhuma educação no que diz respeito a funções e reações básicas do ser humano é literalmente jogado no meio de uma sociedade no século XIX.

Esse ato do senhor de o deixar em praça pública me pareceu estritamente pensado. Imagino que tudo feito por ele tem um propósito experimental. Desde o nascimento de Kaspar Hauser (assim o chamam pois essas duas palavras foram as primeiras que aprendeu a escrever), tudo foi meticulosamente elaborado para então, na sua fase adulta, dar início a um experimento que não está diretamente ligado a ele, mas sim, à sociedade que o encontrará.

O filme pode ser dividido em duas fases: a primeira (e menos interessante) demonstra o Kaspar Hauser nos seus primeiros momentos com a cidade e seus moradores, todo o processo de aprendizado, de reconhecimento e de descobertas, tanto da sociedade que o acolheu, quanto do próprio Kaspar Hauser. Pareceu interessante? Também pensei isso, até assistir os primeiros momentos da segunda parte. A passagem da primeira para a segunda fase se dá quando um professor o encontra e o salva em um circo que o exibia numa espécie de freakshow. Logo em seguida, a história dá um pulo e encontramos Kaspar Hauser muito bem instruído, já sabendo se comunicar, escrever e se tratar, até certo ponto, com todos a sua volta.

E aí está, talvez, o verdadeiro propósito do ser Kaspar Hauser. Nesta segunda parte, ele passa, em determinados momentos, a questionar alguns valores daquela sociedade e esses questionamentos passam a intrigar os indivíduos e estudiosos que atentam a seu caso. Como esse rapaz, que há tão pouco foi inserido na sociedade, já consegue questionar e argumentar sobre certos costumes e valores vigentes? Como ele, que não possui uma visão de mundo (na óptica deles) é capaz de tal feito?

Para explicitar tais questionamentos, direi aqui dois momentos do filme. O primeiro se trata quando Kaspar Hauser conversa com a governanta da casa em que mora e pergunta a ela “para que servem as mulheres?” e, conformada com sua situação, a senhora responde que a função dela é servir seu patrão, o professor. Kaspar Hauser indignado tenta inflamar a situação e passa a questioná-la mais e mais, porém, ela alega ser apenas uma governanta e que sua função não passa e nem nunca passará da simples servidão,

O segundo momento é quando um estudioso e matemático vai até a Kaspar Hauser lhe fazer uma visita com a intenção de entender mais a complexidade do caso dele. Neste encontro, o matemático propõe-lhe um enigma cuja saída é apenas uma, não existindo outras respostas ou soluções. É interessante frisar que nessa ocasião, a mesma governanta que foi questionada sobre sua importância, estava presente e desde o início da conversa entre Kaspar Hauser e o estudioso, afirmava e reafirmava que ele jamais seria capaz de responder tal enigma. Pois então, o enigma é proposto e Kaspar H. não sabe responder, o estudioso então lhe dá a única e complexa resposta. Alguns segundos depois, Kaspar H. diz “existe uma segunda resposta para esse enigma”, o matemático, assustado, não acredita e então, com uma simples e óbvia resposta, ele desconstrói toda a lógica do grande estudioso. A partir daí, o matemático fica inconformado com tal resposta e não lhe dá crédito algum por tal solução, afirmando que para tal enigma a lógica deveria ser usada e não a dedução.

Nesses dois momentos é possível enxergar uma necessidade, ou instinto, de Kaspar Hauser ir contra aqueles valores da sociedade. As indagações feitas por ele durante todo o filme soam de forma simples, humilde e singela, sem qualquer pretensão intelectual ou culta. Essas indagações também não são simplesmente jogadas ao léu e esquecidas ou deixadas de lado na cena seguinte. Com o desenrolar do filme, Kaspar Hauser vai aderindo uma incompatibilidade com aquele mundo, aquela sociedade e em determinado momento, durante uma cerimônia e diante de todos da mais alta sociedade local, Kaspar Hauser, visto como alegoria intelectual pelos presentes, afirma num súbito desespero que preferia o calabouço que vivia a sua situação atual.

Ao seu final, quando menos se imagina, o velho encapuzado que havia criado Kaspar Hauser retorna, sorrateiramente, e mata sua própria criação. Pode-se pensar que tal ato foi, mais uma vez, premeditado, como se a sociedade precisasse de mais uma teste: o enfrentamento da morte de Kaspar Hauser. A cena final é claramente uma representação da suposta reação da sociedade com o assassinato. Depois da autópsia realizada em seu corpo, é constatado que em seu cérebro havia deformidades, seu cerebelo era hipertrofiado enquanto outras regiões eram pouco desenvolvidas. E então, o escrivão da cidade, sai da autópsia com notória felicidade, pois havia descoberto o enigma de Kaspar Hauser e o porquê de todas aquelas reações e questionamentos dele. Essa atitude do escrivão só comprova a necessidade da sociedade de transpor para outras áreas, neste caso o cientificismo, a solução para questões bem mais profundas, tão mais profundas que até fogem a nossos conhecimentos. Bem, de uma forma ou de outra, Kauspar Hauser cumpriu sua missão.

É possível identificar que o “enigma” existente no título do filme não se trata do mistério envolvendo a origem de Kaspar Hauser, mas sim, diz respeito à real função deste ser inserido na sociedade. Suas indagações e seus questionamentos permeiam o povoado de Nuremberg com o propósito de incitar valores jamais pensados por eles. Durante certo tempo, é possível acreditar que Kaspar Hauser está surtindo efeito naquele núcleo, mas logo somos surpreendidos (ou não) com a verdadeira reação da sociedade, no caso, o conformismo diante de uma solução cética dada ao caso Kaspar Hauser. Enigma? Não! O caso Kaspar Hauser está devidamente arquivado e engavetado, e se depender de nós mesmos, permanecerá assim. Pois afinal, existe medo maior para a sociedade do que questionar seus próprios valores?