O cinema alemão deixou um grande legado no que se refere às temáticas do grotesco, pitoresco ou simplesmente daquilo nos provoca repulsa desde o expressionismo. Herzog assumiu essa herança ao revisitar esses temas e de aprofundá-los na perspectiva
de um cinema moderno e capaz de penetrar por alegorias mais complexas, sendo Os anões também começaram pequenos, o
mais radical dos seus trabalhos nesse aspecto.
O
filme usa de uma linguagem bastante alegórica e de humor negro, criando um
micro universo onde só existem anões (muitas vezes deformados) e moralmente repulsivos.
Existe uma discussão latente ao longo do filme cujo coloca a natureza como um
lugar de caos, refletindo a própria ideia de sociedade humana. Herzog
desenvolve uma antirrealidade que nos aproxima daquilo que seria um estado
perverso de natureza. A natureza se torna em si um lugar de desordem e no
decorrer do filme uma série de planos vai revelando, pelos próprios animais, o
que a sociedade humana considera repulsivo: Uma galinha que devora a outra,
porcos amamentando na mãe morta; cada momento do filme é pontuado por esse jogo
entre imagens “da natureza” e a sociedade dos anões. Além disso, o filme ainda
apresenta um descompasso estilístico. As blasfêmias nos chocam com seu humor
estranho, muitas vezes infantil, trabalhando o caos alegórico em cenas de puro
nonsense.
O
filme se define pela sua capacidade de provocar o estranhamento sob si mesmo,
não sendo o mesmo estranhamento recorrente em outros filmes de Herzog, tratando mais de inverter essa relação e perceber como lidamos ao ver os elementos
que só nos existem enquanto objetos de repulsa.
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