sábado, 14 de fevereiro de 2015

À espreita da fé (Stalker, Andrei Tarkovsky),por Danilo Tácito


Fé: Coragem de acreditar em algo que nos foi prometido e ainda não vemos, mas que esperamos, baseados na fidelidade da palavra que nos foi dada.
A definição da palavra “fé” é capaz de resumir o mote principal do filme Stalker (em russo Сталкер), palavra inglesa que quer dizer: aquele que espreita.
Num mundo pós-apocalíptico uma suposta queda de meteorito teria dado origem há uma região denominada “Zona” esta área é protegida por barreiras policiais e a população é proibida de adentrar-la. No mundo ao redor da “Zona” alimenta-se a fé da existência de um quarto capaz de realizar os desejos ou sonhos dos indivíduos com coragem o suficiente de aventurar-se por suas perigosas armadilhas. A Zona tem vida própria e se altera a qualquer momento, A zona é mortal e só um Stalker é capaz de guiar as pessoas em segurança.
O filme mostra a viagem de um Stalker guiando dois homens que tem suas identidades protegidas e conhecemos apenas como professor e escritor. São homens fracassados num mundo devastado. O Stalker é um homem casado e que tem uma filha paralítica, arrisca sua vida atravessando pessoas para a Zona em troca de dinheiro.
A fotografia é digna daqueles adjetivos que devemos evitar, mas que fica impossível não usar por que é esplendida! Inicia-se no mundo fora da Zona é em tons ocre sem colorido, a cenografia é suja e úmida, o filme inteiro é muito úmido, e quando entramos na Zona tudo tem cor, é uma metáfora de que naquele ambiente a vida do stalker tem mais sentido e importância lá fora ele é um nada, aqui dentro a vida das pessoas dependem dele.
A narrativa passa por estilos diferentes, por cenas de aventura numa frenética passagem pela barreira policial e entra num forte suspense, temos medo da morte a qualquer passo, não sabemos de que forma, não podemos voltar, não sabemos para onde vamos ou o que exatamente buscamos, mas o mais importante no filme esta na filosofia e na poesia que é recitada, algumas vezes em palavras e grande parte do filme com imagens, como são belas as imagens, como são fortes as expressões dos quadros fechados que Tarkovski nos expõe. Quadros e cenas muitas vezes monótonos, mas cheios de beleza na escolha artística de suas composições elaboradas, como quadros do maneirismo barroco.

Até onde vai a fé dos desesperados? Até onde o mundo pode ser mantido como esta, seguro nos pilares dessa fé? Essas são questões fortemente levantadas em Stalker, elementos que eu jamais conseguirei decifrar, como o cão pastor que se afeiçoa ao nosso herói enquanto seus companheiros o desagradam, o corvo voando no galpão e a bela sequência final em que sua filha paralítica move copos apenas com o olhar, como uma mutante.  A fé que é capaz de mover o que não podemos mover.

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