Considerado
um ponto histórico na cinematografia portuguesa, sendo um dos primeiros filmes
do Novo Cinema português, Os Verdes Anos (Paulo Rocha, 1964) marca por trazer uma renovação tanto estética como temática, trazendo um olhar
mais cru de Lisboa e dos seus modos de vida.
No
inicio somos logo apresentados pelo tio do protagonista à realidade de Lisboa,
alertando sobre os perigos de se andar depressa demais, recomendando a cautela
para evitar ser engolido pela cidade, como tantos outros. Não é uma fala
meramente introdutória, mas sim algo que faz referencia a Júlio, o protagonista,
e a situação de jovem provinciano que vem tentar a vida na cidade.
A
história do filme então é basicamente a tentativa de Júlio em conviver com a
sua nova realidade, abandonando a sua inocente mentalidade de província para
sobreviver no mundo adulto da metrópole, ao mesmo tempo em que se envolve
romanticamente com Ilda, uma jovem empregada doméstica. Porém, as adversidades
se mostram mais fortes do que Júlio, tornando-o uma daquelas pessoas derrotadas
pela cidade de Lisboa, o que acaba resultando em um final trágico.
É
importante a forma como se dá relação do protagonista com Lisboa. A cidade se
mostra viva, com o seu povo trabalhando, dançando ou bebendo em bares, tudo
isso ao redor de Júlio e do seu drama intimo. Está sempre ocorrendo um pequeno
choque entre o personagem e o ambiente em que ele está situado. Seja a porta
que não se abre ou a falta de habilidade na dança que se descobre em um clube
até a confrontação acontecendo no ultimo momento do filme. É a oposição entre o
individuo e a metrópole.
Mas
o interessante em Os Verdes Anos é
que mesmo marcado por um clima de fatalidade, com o seu argumento baseado em um
crime noticiado pelo jornal, não é dado ao espectador uma experiência
melodramática. Pelo contrario, o que se
torna mais perceptível no filme é a pureza das personagens, com a mocidade de
Ilda e Júlio ocupando muito mais espaço do que a infelicidade que está presente
na história.
Fica
clara a busca de Paulo Rocha por um caminho mais singelo para construir um
drama sobre a confusão mental de um individuo. A busca pelo simples é tanta que
o momento do ápice dramático é dado ao espectador somente através de um
delicado suspiro, com a nossa visão bloqueada por uma janela opaca. É nesse
desvio na forma de narrar o drama que o filme de Paulo Rocha rompe com o cinema
clássico português, abrindo as portas para tantos outros nomes do novo cinema
de Portugal.
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