Tudo está indo mal neste mundo. Neste mundo do leste europeu, neste mundo da Praga de Vera Chytilová. Anos sessenta do século passado.
A Tchecoslováquia de então sob o domínio totalitário da antiga URSS. A ausência de liberdade individual, a supressão da democracia. As margaridas estão indo mal também. E reagem, e zombam, e escarnam.
Em ‘As Pequenas Margaridas’ Vera Chytilová, uma representante da Nova Viná, ou Nouvelle Vague tcheca, apresenta o cotidiano de duas jovens que, ao entenderem que o mundo está indo péssimo, decidem agir com o intuito de corroborar com esse mundo péssimo. São desordeiras, depravadas, desrespeitosas, libertinas. São avessas à moral e aos bons costumes e à repressão feminina presente na estrutura social dos países sob a égide do comunismo.
Aparentemente bobo e engraçado, ‘As Pequenas Margaridas’ é, acima de tudo, um filme político. Chytilová clarifica esse caráter político através das atitudes das jovens que percebem o mundo em que vivem sem sentido e sem direção. ‘As Pequenas Margaridas’ quer mostrar que num país de repressão política e ausência de liberdade inexiste a expectativa de um futuro melhor e, como consequência, uma possível reação é a opção pela depravação.
O trabalho técnico de Vera Chytilová merece uma pontuação singular pela variação de cores e pela deformação de imagens, acentuando contrastes e nos remetendo ao Surrealismo.
Numa Tchecoslováquia de castrações e impedimentos, as pequenas margaridas de Chytilová se deleitam ao estragar alimentos e a debochar dos homens e da sociedade tcheca. Entre um rio que parece estar vestindo sua correnteza de sangue e a sequência de imagens de cadeados fechados, ‘As Pequenas Margaridas’ alegoriza e metaforiza a dor e o cerceamento numa sociedade reprimida por um Estado totalitário.
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