"Num recanto, apoiada ao parapeito da muralha, estava uma mulher.
Com os cotovelos apoiados no gradeamento, parecia olhar com muita atenção a
água turva do canal. Trazia um bonito chapelinho amarelo e uma encantadora
mantilha negra. “É uma moça e certamente morena”, pensei. Parecia não ouvir os
meus passos e nem sequer se moveu quando passei por ela, retendo a respiração e
com o coração a bater violentamente."
Fiódor Dostoiévksi
Poética, cheia de graça e ao mesmo tempo
solitária é a atmosfera que Luchino Visconti cria em "Noites
Brancas", que foi produzido logo após "Sedução da Carne" de 1945
que rompe com o neo realismo e aponta para o pós-guerra, impregnando melodrama
a um mundo limitante; e distintamente, em 1957, Visconti dirige Noites Brancas,
uma história de paixão que estabelece um clima de sonhos e utopias.
O filme é baseado na obra de Dostoiévksi,.
O elenco é mínimo, que pode ser resumido em um jovem solitário e sonhador que
se apaixona rapidamente, uma moça ingênua que vive na esperança do retorno de
seu amado, e o inquilino um tanto quanto misterioso, que é o personagem por
quem a moça anseia.
As filmagens acontecem em lugares abertos.
A cenografia tem um ar melancólico, com muitas pontes e rios gelados, deixando
claro o desgaste da realidade social italiana. Tudo é muito pesado e
tristemente ilusório. Os efeitos de iluminação fazem com que as ruas e as
paredes pareçam fantasiosas. O fascinante é que o ambiente e a exterioridade
das pessoas mudam ao decorrer das transformações e construções dos personagens
principais, a exemplo disso está a sequência do bar, quando a moça se diverte genuinamente
e finalmente com o personagem principal, a cena mostra muitos jovens dançando
alegremente, saindo totalmente daquele delírio bucólico que transpassava antes.
Almejando narrar essa eterna busca pela felicidade, pelo romantismo que liberta
da solidão e ativa o imaginário.
Deste
modo se passa Noites Brancas, noites
e mais noites de espera dolorosa e compartilhamento das mesmas que pareciam não
acabar, por fim a sequência que aparece a neve caindo deixa a sensação do
"estar" numa fantasia, que logo é quebrada pela chegado do inquilino,
a moça se desculpa pela esperança de um futuro imaginado que criou com o rapaz e
corre para abraçá-lo.
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