sábado, 14 de fevereiro de 2015

"O imaginário romântico", por Juliane Travassos



"Num recanto, apoiada ao parapeito da muralha, estava uma mulher. Com os cotovelos apoiados no gradeamento, parecia olhar com muita atenção a água turva do canal. Trazia um bonito chapelinho amarelo e uma encantadora mantilha negra. “É uma moça e certamente morena”, pensei. Parecia não ouvir os meus passos e nem sequer se moveu quando passei por ela, retendo a respiração e com o coração a bater violentamente."
Fiódor Dostoiévksi


Poética, cheia de graça e ao mesmo tempo solitária é a atmosfera que Luchino Visconti cria em "Noites Brancas", que foi produzido logo após "Sedução da Carne" de 1945 que rompe com o neo realismo e aponta para o pós-guerra, impregnando melodrama a um mundo limitante; e distintamente, em 1957, Visconti dirige Noites Brancas, uma história de paixão que estabelece um clima de sonhos e utopias.

O filme é baseado na obra de Dostoiévksi,. O elenco é mínimo, que pode ser resumido em um jovem solitário e sonhador que se apaixona rapidamente, uma moça ingênua que vive na esperança do retorno de seu amado, e o inquilino um tanto quanto misterioso, que é o personagem por quem a moça anseia.

As filmagens acontecem em lugares abertos. A cenografia tem um ar melancólico, com muitas pontes e rios gelados, deixando claro o desgaste da realidade social italiana. Tudo é muito pesado e tristemente ilusório. Os efeitos de iluminação fazem com que as ruas e as paredes pareçam fantasiosas. O fascinante é que o ambiente e a exterioridade das pessoas mudam ao decorrer das transformações e construções dos personagens principais, a exemplo disso está a sequência do bar, quando a moça se diverte genuinamente e finalmente com o personagem principal, a cena mostra muitos jovens dançando alegremente, saindo totalmente daquele delírio bucólico que transpassava antes. Almejando narrar essa eterna busca pela felicidade, pelo romantismo que liberta da solidão e ativa o imaginário.

Deste modo se passa Noites Brancas, noites e mais noites de espera dolorosa e compartilhamento das mesmas que pareciam não acabar, por fim a sequência que aparece a neve caindo deixa a sensação do "estar" numa fantasia, que logo é quebrada pela chegado do inquilino, a moça se desculpa pela esperança de um futuro imaginado que criou com o rapaz e corre para abraçá-lo.

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