sábado, 14 de fevereiro de 2015

"O fundo do coração" (1982), por Vanessa Beltrão



Frannie (Terry Gaar) é uma vitrinista que cria paisagens de lugares paradisíacos a partir de fotos e tudo o que ela quer é fugir da realidade criada peças luzes e letreiros de Las Vegas para entrar na “realidade” que ela cria nas vitrines, através de uma viagem para as Ilhas do Pacífico Sul. Hank (Frederic Forrester) é um rapaz “pé no chão” que trabalha num tipo de ferro velho, afastado do centro da cidade e que só pensa em construir um futuro mais sólido para ele e Frannie, o que fica claro quando, no aniversário de 5 anos que se conheceram, num 4 de Julho, Hank a presenteia com a escritura da casa em que vivem, mostrando oposição ao desejo de Frannie de sair do caos de Vegas.
Após perceberam que desejam coisas diferentes, os dois procuram uma forma de realizar suas vontades separadamente e logo encontram, em outras pessoas, vestígios da realidade que procuravam um no outro. Ray (Raul Julia) é um cantor/garçon que, como Frannie, quer viajar para Bora Bora. Leila (Nastassja Kinski) é uma garota de circo, uma ilusão criada por Hank que some da narrativa do mesmo modo como aparece, “num piscar de olhos” (palavras dela).
A produção de O Fundo Do Coração chegou á 30 milhões de dólares. Numa época em que todos usavam locações externas e fora dos Estados Unidos como forma de economia, Coppola filmou inteiramente dentro do estúdio, o que acarretou em diversos cenários. O filme não foi bem recebido pela crítica nem pelo público por ser um filme á frente de seu tempo. Todos esses fatores levaram a falência da Zoetrope Studios e a parada forçada nas produções de Coppola.
O filme é exagerado e caricato. Com luzes e letreiros de neon, com espelhos, cenas sobrepostas, cenários claramente falsos, choque com direito á cabelo em pé, musicais no meio da rua (como nos anos 50), a atuação vaga dos atores, quase encontro dos personagens, falsos possíveis momentos de reconciliação, o que faz do filme uma mistura de referências. No começo pode ser estranho todo o exagero, mas depois de um tempo você simplesmente aceita e entra na realidade do filme, se tornando completamente aceitável quando o filme se transforma numa espécie de clipe musical onde Laila dança e canta para Hank. Como não bastasse tudo isso e as luzes que já fazem parte de Vegas, Coppola adiciona uma iluminação em ambientes internos, como que para representar os sentimentos dos personagens e do momento. Em certo momento Hank, em extrema ironia ao filme diz “O problema com o mundo de hoje são essas luzes, tudo parece artificial”.

Depois de todo esse choque de informações, ao final o filme volta á “realidade”. Sem neon ou letreiros, sem luzes fake internas ou cenas sobrepostas. Apenas Frannie e Hank, juntos em sua casa, como se tudo o que tivesse acontecido antes fosse um sonho maluco. Apesar do fracasso na época de lançamento, hoje O Fundo Do Coração é considerado um grande filme por estar à frente de seu tempo e por ir contra as condições de produção da época e também por deixar bem claro os 30 milhões gastos na produção.

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