quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"Memórias do subdesenvolvimento" por Rafael Acioly



Memórias do subdesenvolvimento.
É inquietante tentar descobrir o que é o subdesenvolvimento, ainda mais quando estamos vendo a nossa própria existência ser estendida para a decadência.
“As palavras devoram as palavras e deixam você nas nuvens, a milhares de milhas de tudo. Como sair do subdesenvolvimento? (...) No subdesenvolvimento não tem continuidade. Tudo é esquecido, as pessoas não são conseqüentes. Você se lembra de muitas coisas. Demais. Você não é nada, está morto. Agora começa, Sergio, tua destruição final.”
No filme “Memórias do subdesenvolvimento”, de Tomás Gutierrez Alea(1968) apresenta o anacronismo da vida de Sergio, um homem melancólico, já no final de sua terceira década e vivendo o angustiante conflito entre se contentar com as suas lembras ou persistir na esperança de um futuro prospero ali mesmo onde gostara de viver. Protagonista da Cuba pós-revolução (1961) que divide com ele as mesmas angustias anacrônicas, na verdade, há uma insistência em acreditar positivamente na esperança. Mas, ao longo da película vamos conhecendo, aos poucos, as ausências que provocam ao cenário um ambiente com um mixe de paranóia, melancolia e calefação tropical. A presença cada vez mais constante destas faltas vai tomando conta da esperança e apodrecendo os frutos de um passado.
A distância entre a realidade e as esperanças ao final se torna tão explicita e esta exposta em um discurso radicalmente hermético de Fidel quando nega a fragilidade do subdesenvolvimento frente às ameaças militares do capitalismo dos ianques. É neste hermetismo que parece esta centrada uma das principais críticas do filme para uma possível revolução socialista. Enquanto isto, a ilha estava tomada por uma estrutura militarizada na insistência socialista que vai aos poucos se autodesenhando para o autoritarismo.
É assim que são tratadas a todo instante as “memórias” de Sergio no filme “Memórias do Subdesenvolvimento”: são lembranças de um homem “podre”, que não é mais sábio e nem mais maduro, tornara-se “mais estúpido e mais podre do que maduro”. E ao final Sergio conclui que no subdesenvolvimento “nada persiste, pois tudo amadurece e apodrece com facilidade”. Mas a esta altura, ela já no auge da sua desesperança, prefere suspeitar que isto seja por conta do fenômeno natural determinado pelos trópicos o que faz de cuba um pais quente e por tanto subdesenvolvido. Aqui podemos encontrar com a sutileza de Edmundo Desnoes (autor do romance que deu origem ao filme) e de Alea nesta mescla de imagens reais e ficcionais para questionar antagonismos paradigmáticos como, por exemplo, as definições deterministas do desenvolvimento ou subdesenvolvimento por polarizações entre norte e sul; capitalismo e socialismo; quente e frio...

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