sábado, 11 de outubro de 2008

“Montenegro – Ou Porcos e Pérolas” por Eduardo Feitosa


Uma das primeiras cenas do filme parece bem familiar aos olhos e ouvidos do espectador. A imagem é de uma mulher assistindo ao pôr-do-sol num dique de um grande e calmo lago. Ao fundo, uma música típica dos anos 80 interpretada por Marianne Faithfull. A impressão é de que o público irá se deparar com mais uma película Hollywoodiana da década de 80 no maior estilo “Os Goonies”. Mas não tem nada a ver com isso. E Dusan Makevejev fez questão de deixar tal fato claro na única cena que antecede a imagem alaranjada e saudosista do pôr-do-sol. Um macaco estava alí, logo no primeiro minuto de filme, para representar o instinto animal. Viemos ao mundo para sermos o que queremos, ou pelo menos para tentarmos.
A história narra um choque de culturas vivido por Marilyn Jordan, personagem interpretada por Susan Anspach. Marilyn é uma dona de casa americana, mãe de dois filhos e casada com um rico negociante sueco. Sua vida parece estar cercada de casacos de pele e de um típico “vovô gagá da família”, que acredita ser Buffalo Bill. A protagonista está cercada pelas fúteis convenções da sociedade rica sueca e termina por tomar atitudes estranhas e incomuns, que variam entre sintomas de loucura e explosões instintivas de uma ser humana condicionada.
O ápice do filme se dá a partir do momento no qual a dona de casa conhece, por acaso, um grupo de iugoslavos que moram na Suécia. A vida desse grupo está marcada por uma intensa sensualidade, alto grau de violência e muito álcool. Apesar do “clima” diferente, Marilyn parece se acomodar e se divertir muito mais quando está com aquele grupo de estranhos do que com sua própria família. Dividir o banco de trás do carro com uma ovelha, tirar uma foto junto a um homem que tem uma faca enfiada na cabeça, dormir ao lado de duas pessoas fazendo sexo (e é incrível como nesse trecho do filme Makavejev consegue fazer os humanos parecerem eqüinos), e acompanhar o nascimento repentino do erotismo feminino numa camponesa desajeitada. Tudo isso parece estar muito além da rotina da personagem de Anspach e, por isso, a periferia se torna muito mais convidativa. A imagem de Marilyn tocando na ferida ensangüentada de um daqueles homens e, em seguida, lambendo o próprio dedo é a prova de que ela se sente parte daquele grupo.
Através de uma comédia pitoresca, irônica e repleta de “times” bem executados, pode-se dizer que Dusan Makavejev conseguiu mostrar-se um verdadeiro anjo pornográfico do cinema. O espectador compreende as suas críticas, sente-se atraído por aquela periferia sedutora e, acima de tudo, goza de cada take da película.

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