Escrever
sobre esse filme foi algo difícil pra mim, preciso confessar. Resolvi escolher
uma palavra como ponto de partida. Escolhi hipnose. Sim, esse é um filme
altamente hipnótico. Suas imagens repetidas, como a s cenas na danceteria que
se reproduzem como uma rotina, e é uma rotina, ou sua palheta de cores, em
quase todo o filme reduzida, tomaram meus olhos. Roubaram meus olhos. Beau
travail.
Assim
como a sequência de ir e vir de um pêndulo usado pelos hipnotizadores, Claire
Denis tem como seu pêndulo os corpos masculinos, belos rapazes em diversos
momentos de alta coreografia teatralizada. Não é teatro, é coisa séria, é
treinamento de soldados da Legião Francesa na costa africana. Mas ainda assim é
teatral. Como todo bom ato teatral tem seu figurino com aqueles soldados não é
diferente. Estar uniformizado, inclusive nos momentos de diversão, com vincos
perfeitos faz parte do show assistido por todos aqueles nativos e nativas com seus
enormes olhos fixos.
A
coreografia é constante. Ela é sonora na música em coro, ela é quase imóvel num
momento de energização do corpo pelo sol africano (era isso mesmo que estavam
fazendo?), ela é performaticamente mística num ritual de corpos carregando
corpos nas ruas da periferia local ou numa cerimonia fúnebre, ela é dançante em
um treinamento de luta corporal e ela chega ao seu ápice sendo um fluido ballet
aquático.
Uma
aura perturbadora de erotismo ronda aqueles homens. O que lhes excita é também
seus demônios. O gozo contido, reprimido, auto-policiado, silenciado por uma bala.
Uma dúvida é muito gritante: estaria Galoup hipnotizado ao dançar “Rhythm of the Night” de uma maneira enérgica como
aquela ou estaria ele auto-hipnotizado em seu ambiente de trabalho, fingindo
ser um soldado padrão (entenda-se heterossexual como componente marcante desse
padrão) como o membro de uma plateia que ridiculamente acha ser uma galinha num
desses espetáculos de hipnose?
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