domingo, 10 de agosto de 2014

"Cosmopolis", por Carissa Vieira


Cosmópolis, filme dirigido pelo cineasta canadense David Cronenberg e adaptado de um romance homônimo de Don Delillo, conta a história de um jovem bilionário chamado Eric Packer. Querendo fazer um corte de cabelo ele atravessa a cidade inteira para ter seu desejo atendido. Enquanto viaja por Manhattan faz uma aposta errada e acaba perdendo todo o seu dinheiro. Vendo sua ruína financeira ele acaba fazendo uma jornada de transformação pessoal, mas não necessariamente uma transformação clássica de jornada do herói, onde existe um crescimento no final. A jornada de Eric é muito mais única que isso.

Sem sombra de dúvida Cosmópolis não é um filme fácil. Somos inseridos no mundo de Packer, mas sem nenhuma explicação prévia do que acontece. O filme é contado por cenas aleatórias e que não têm necessariamente uma ligação entre si, o que muitas vezes incomoda; mas quanto mais da realidade de vida do protagonistas nós vemos, mais clara fica a ligação de uma cena até a outra.

Com interpretações muito competentes, onde a frieza e artificialidade estão muito presentes, causando uma sensação de estranhamento e incômodo constante. Também fica difícil sentir empatia pelos personagens, que muitas vezes parecem ter perdido sua humanidade. Com uma encenação marcada pelos diferentes modos de filmar a limusine do personagem principal, é notável o fato desse espaço circunscrito nunca cansar os olhos do espectador.

O longa trabalha com temas bem interessantes como a morte, o futuro da sociedade, o poder do dinheiro, o uso desenfreado da tecnologia, a insatisfação em meio ao excesso, entre outros assuntos bastante pertinentes à estrutura da nossa atual sociedade. Tudo isso é exposto de maneira nada óbvia na tela. Cronenberg quer mostrar o que ele próprio deseja, incitar quem assiste ao filme a pensar em questões muito mais comuns do que acreditamos através do estranhamento que as imagens na tela causam, que suas escolhas na hora da encenação permitem.


Definitivamente é um filme que não agrada a maioria, mas que não foi feito para agradar.

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