sábado, 9 de agosto de 2014

"O Grande Hotel Budapeste", por Daniella Tavares


Em 28 de julho de 1914 o Império Áustro-Húngaro declarou guerra à Sérvia iniciando assim a I Guerra Mundial. Cem anos depois, Wes Anderson, com um preciosismo estético, reconstrói a Europa entre guerras em seu mais novo filme, O Grande Hotel Budapeste. O filme que passa numa versão da Hungria foi rodado numa pequena cidade alemã, Görlitz, que faz fronteira com a Polônia e que já foi retradada em filmes sobre a II Guerra Mundial como Bastardos Inglória, Quentin Tarantino, A Menina que Roubava Livros, adaptação para o cinema do livro de Markus Zusak e Caçadores de Obras-Primas, George Clooney. A Áustria não aparece explicitamente no filme, mas sim na sua referencia ao escritor austríaco Stefan Zweig.
Anderson afirmou, durante o Festival de Berlim, que muitas das ideias expressas e exploradas no filme foram roubadas diretamente da vida e da obra de Zweig. Assim como a estrutura da trama (uma história dentro de outra história), a atmosfera do filme e o personagem M. Gustave.
Zero Moustafa (F. Murray Abraham), velho proprietário do hotel de um país fictício do leste Europeu e que dá nome ao título, conta sua história para um escritor (Jude Law) no restaurante do hotel. O lugar é decadente, sem hóspedes, triste, mas não foi sempre assim. Moustafa leva seu interlocutor e o público para os anos quando ele era o lobby boy e seu protetor era o lendário conciérge Gustave (Ralph Fiennes). Viciado no perfume L’Air de Panache,  Monsieur Gustave, enquanto, gerencia o hotel com mãos de ferro para que tudo seja perfeito,  dá uma especial atenção às velhotas milionárias que ali se hospedam. Umas dessas velhotas morre, a Madame D (Tilda Swinton), deixando sua herança para o Monsieur, os filhos se recursam a aceitar o testamento e fazem com que Gustave seja preso acusado pelo morte da velhota. Mesmo na cadeia o gerente do hotel não abandona seus bons modos.
Dessa forma, em um mundo no qual a educação, cordialidade e a memória ficaram perdidas no tempo ou em alguma definição do dicionário, pois se não estão perdidas onde encontrá-las? Na plateia que vaiou a presidenta Dilma na abertura e no encerramento da copa ou nos soldados israelenses que bombardeiam como autômatos a Faixa de Gaza e deixam entre os escombros corpos destroçados de crianças? Anderson nos apresenta M. Gustave que tenta perpetuar valores tidos como arcaicos. Assim o filme é uma luta para manter os padrões de refinamento e o ambiente de luxuosa perfeição que já rareiam no mundo exterior.
O impacto visual obsevado em outros filmes, como Os Excêntricos Tenenbaums (2001), continua com cores marcantes, embora o amarelo dos Tenenbaums seja substituído pelo rosa no Hotel Budapeste. Outra característica do diretor são os cenários grandiosos que faz os seus filmes pareçam um belíssimo livro de ilustrações. Anderson brinca com os exageros apenas para deixar claro o tempo todo que seus filmes são apenas uma grande metáfora de muitas coisas.
O Grande Hotel Budapeste retrata de forma sutil e irônica a passagem da vida perfeita e elegante para frieza das guerras. Assim o estilo clássico, a arte neobarroca e as cores sedem lugar para os regimes políticos totalitários e seus prédios de concreto cinza, frios e robustos. O filme é uma mistura de aventura, comédia, romance, drama, fantasia e quando parece que o caldo vai desandar para uma bagunça desenfreada, a narrativa se recupera e tudo faz sentido novamente.



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