Em 28 de julho de 1914 o Império
Áustro-Húngaro declarou guerra à Sérvia iniciando assim a I Guerra Mundial. Cem
anos depois, Wes Anderson, com um preciosismo estético, reconstrói a Europa
entre guerras em seu mais novo filme, O Grande Hotel Budapeste. O filme que passa
numa versão da Hungria foi rodado numa pequena cidade alemã, Görlitz, que faz
fronteira com a Polônia e que já foi retradada em filmes sobre a II Guerra
Mundial como Bastardos Inglória,
Quentin Tarantino, A Menina que Roubava Livros, adaptação
para o cinema do livro de Markus Zusak e Caçadores
de Obras-Primas, George Clooney. A Áustria não aparece explicitamente no
filme, mas sim na sua referencia ao escritor austríaco Stefan Zweig.
Anderson afirmou, durante o Festival de Berlim, que
muitas das ideias expressas e exploradas no filme foram roubadas diretamente da
vida e da obra de Zweig. Assim como a estrutura da trama (uma história dentro
de outra história), a atmosfera do filme e o personagem M. Gustave.
Zero Moustafa (F. Murray Abraham), velho proprietário do
hotel de um país fictício do leste Europeu e que dá nome ao título, conta sua
história para um escritor (Jude Law) no restaurante do hotel. O lugar é
decadente, sem hóspedes, triste, mas não foi sempre assim. Moustafa leva seu
interlocutor e o público para os anos quando ele era o lobby boy e seu protetor
era o lendário conciérge Gustave (Ralph Fiennes). Viciado no perfume L’Air de
Panache, Monsieur Gustave, enquanto,
gerencia o hotel com mãos de ferro para que tudo seja perfeito, dá uma especial atenção às velhotas
milionárias que ali se hospedam. Umas dessas velhotas morre, a Madame D (Tilda Swinton),
deixando sua herança para o Monsieur, os filhos se recursam a aceitar o
testamento e fazem com que Gustave seja preso acusado pelo morte da velhota.
Mesmo na cadeia o gerente do hotel não abandona seus bons modos.
Dessa forma, em um mundo no qual a educação, cordialidade
e a memória ficaram perdidas no tempo ou em alguma definição do dicionário,
pois se não estão perdidas onde encontrá-las? Na plateia que vaiou a presidenta
Dilma na abertura e no encerramento da copa ou nos soldados israelenses que
bombardeiam como autômatos a Faixa de Gaza e deixam entre os escombros corpos
destroçados de crianças? Anderson nos apresenta M. Gustave que tenta perpetuar
valores tidos como arcaicos. Assim o filme é uma luta para manter os padrões de
refinamento e o ambiente de luxuosa perfeição que já rareiam no mundo exterior.
O
impacto visual obsevado em outros filmes, como Os Excêntricos Tenenbaums (2001), continua com cores marcantes,
embora o amarelo dos Tenenbaums seja
substituído pelo rosa no Hotel Budapeste.
Outra característica do diretor são os cenários grandiosos que faz os seus
filmes pareçam um belíssimo livro de ilustrações. Anderson brinca com os exageros
apenas para deixar claro o tempo todo que seus filmes são apenas uma grande
metáfora de muitas coisas.
O Grande Hotel
Budapeste retrata de forma sutil e irônica a passagem da vida
perfeita e elegante para frieza das guerras. Assim o estilo clássico, a arte
neobarroca e as cores sedem lugar para os regimes políticos totalitários e seus
prédios de concreto cinza, frios e robustos. O filme é uma mistura de aventura, comédia, romance, drama,
fantasia e quando parece que o caldo vai desandar para uma bagunça desenfreada,
a narrativa se recupera e tudo faz sentido novamente.
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