Um início morno que aos poucos se revela um filme esplêndido. Talvez, assim, possamos definir O Criado (The Servant, 1963). A história começa com o retorno do acomodado e bem nascido Tony (James Fox) de uma viagem à África. Ele procura um empregado para administrar sua recém comprada mansão na cidade de Londres. Aí surge o mordomo Hugo Barrett (Dirk Bogarge) que se encaixa perfeitamente no perfil que seu novo patrão procura: um homem que faça tudo, “serviços gerais, entende?”. Pouco a pouco o Criado, elegante e perfeccionista, ganha a confiança de seu patrão, passando a realizar todas suas vontades. Nessa mesma medida a intimidade e credibilidade de Barret desagrada a noiva de Tony –Susan - interpretada por Wendy Craig.
Até aí a história baseada no romance de Robin Maughan roteirizado por Harold Pinter (Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2005) apenas sugere pequenos bocejos para uma narrativa que está ao despertar. O filme ganha complexidade quando Barrett traz para a casa do patrão sua suposta irmã “a pequena Vera” (Sarah Miles). Daí Barret - aborrecido com a presença de Susan, sugestivamente, começa a revelar outras qualidades de sua irmã ao patrão “suas saias são muito curtas, Senhor”. Dessa forma se inicia um clima de suspense e sedução entre Tony e Vera – diretamente orquestrado por Barret – que, aos poucos, vai se intesificando.
Barret oferece ao patrão tudo que o mesmo deseja. Poderia ser um personagem crasso de uma visão de mundo servil. Entretanto, é possível notar ao longo dessa primeira parte do filme cenas em que ele, na verdade, não é tão perfeito quanto seu patrão imagina. Em certo momento ordena a Vera que tome no banheiro do Patrão, e pior (ou melhor), assim que o patrão sai aborrecido com o fato “E que isso não se repita” Barret se junta a Vera deleitando-se (nem que seja por poucos minutos) das mordomias que oferece cotidianamente.
Porém, essa “libertinagem” termina custando caro a Barret. Tony e Susan retomam o relacionamento e fazem uma visita a um amigo de Susan, entretanto, resolvem volta antes da data prevista para Londres. No momento em que chegam a casa se deparam com a janela do quarto de Tony acesa. Ao entrar na casa confirmam o que até então era impensável para Tony. Vera na verdade não é irmã de Barret, mas sua noiva, e ambos estão deitados na cama do patrão. Destaque para o enquadramento de Tony dialogando com a sobra de Barret.
Tony mais do que decepcionado está sem horizonte. Nem em seus piores pesadelos poderia imaginar tamanha traição. Barret não era um simples criado, era O Criado, sabia como o agradar e resolvia todo e qualquer tipo de problema. Quem fará tudo isso, agora? Tony começa a perceber que se tornou mais dependente da presença de Barret do que gostaria de admitir. Ao passar dos dias a casa de Tony reflete o retrato do próprio estado emocional do personagem: um lixo. Dias, talvez meses, passaram até que certo dia, Tony em seu alcoolismo desenfreado reencontra Barret num balcão de bar. Barret pede uma nova chance, diz que nada sabia a respeito do envolvimento dele com Vera até aquela noite e que a mesma fugiu, levando todo seu dinheiro.
Os dois passam a viver juntos novamente, só que agora a relação muda bastante. Cada vez fica menos nítido quem é patrão e quem é empregado. Barret desobedece aos mandamentos de Tony por várias vezes. Ambos parecem estar a beira da loucura. Um jogo de gato e rato em que não temos para quem torcer. Imprenscídivel citar nesse momento o uso de planos seqüencia, da profundidade de campo, da beleza de enquadramentos e movimentos sutis da câmera para reforçar a mudança de climas e situações ao longo de O Criado. E é justamente aí que a direção de Joseph Losey casa perfeitamente com a belacíssima atuação dos dois protagonistas.
O final torna-se um caos total. Vera revisita a mansão de Tony caindo aos seus pés, mas é maquiavelicamente escorraçada por Barret que já esboça em seu sorriso sarcástico a última seqüência. Susan também revisita a mansão de Tony, e encontra Tony & Barret, no meio de uma festa, cercados por mulheres, incluindo a própria Vera. Nesse momento o filme atinge seu clímax em que ninguém pode presumir como ele vai acabar até que Barret se aproxima de Susan e a beija. Susan o retribui carinhosamente com uma raivosa tapa na cara. Fim
Esse é o Criado. Filme exemplar em que facilmente poderia cair no lugar comum mostrando uma luta de classes simplista e terminar com um Happy end e/ou uma lição moral da pior qualidade. Porém, Joseph Losey mostra como direção e roteiro se unem para formar uma obra de arte primorosa em que , passo a passo, prende a atenção a altera a percepção do espectador. Filme em que não existe sobra para o maniqueísmo. Filme que faz com que nós próprios repensarmos nossas relações com aqueles que amamos, ou deixamos de amar.
Até aí a história baseada no romance de Robin Maughan roteirizado por Harold Pinter (Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2005) apenas sugere pequenos bocejos para uma narrativa que está ao despertar. O filme ganha complexidade quando Barrett traz para a casa do patrão sua suposta irmã “a pequena Vera” (Sarah Miles). Daí Barret - aborrecido com a presença de Susan, sugestivamente, começa a revelar outras qualidades de sua irmã ao patrão “suas saias são muito curtas, Senhor”. Dessa forma se inicia um clima de suspense e sedução entre Tony e Vera – diretamente orquestrado por Barret – que, aos poucos, vai se intesificando.
Barret oferece ao patrão tudo que o mesmo deseja. Poderia ser um personagem crasso de uma visão de mundo servil. Entretanto, é possível notar ao longo dessa primeira parte do filme cenas em que ele, na verdade, não é tão perfeito quanto seu patrão imagina. Em certo momento ordena a Vera que tome no banheiro do Patrão, e pior (ou melhor), assim que o patrão sai aborrecido com o fato “E que isso não se repita” Barret se junta a Vera deleitando-se (nem que seja por poucos minutos) das mordomias que oferece cotidianamente.
Porém, essa “libertinagem” termina custando caro a Barret. Tony e Susan retomam o relacionamento e fazem uma visita a um amigo de Susan, entretanto, resolvem volta antes da data prevista para Londres. No momento em que chegam a casa se deparam com a janela do quarto de Tony acesa. Ao entrar na casa confirmam o que até então era impensável para Tony. Vera na verdade não é irmã de Barret, mas sua noiva, e ambos estão deitados na cama do patrão. Destaque para o enquadramento de Tony dialogando com a sobra de Barret.
Tony mais do que decepcionado está sem horizonte. Nem em seus piores pesadelos poderia imaginar tamanha traição. Barret não era um simples criado, era O Criado, sabia como o agradar e resolvia todo e qualquer tipo de problema. Quem fará tudo isso, agora? Tony começa a perceber que se tornou mais dependente da presença de Barret do que gostaria de admitir. Ao passar dos dias a casa de Tony reflete o retrato do próprio estado emocional do personagem: um lixo. Dias, talvez meses, passaram até que certo dia, Tony em seu alcoolismo desenfreado reencontra Barret num balcão de bar. Barret pede uma nova chance, diz que nada sabia a respeito do envolvimento dele com Vera até aquela noite e que a mesma fugiu, levando todo seu dinheiro.
Os dois passam a viver juntos novamente, só que agora a relação muda bastante. Cada vez fica menos nítido quem é patrão e quem é empregado. Barret desobedece aos mandamentos de Tony por várias vezes. Ambos parecem estar a beira da loucura. Um jogo de gato e rato em que não temos para quem torcer. Imprenscídivel citar nesse momento o uso de planos seqüencia, da profundidade de campo, da beleza de enquadramentos e movimentos sutis da câmera para reforçar a mudança de climas e situações ao longo de O Criado. E é justamente aí que a direção de Joseph Losey casa perfeitamente com a belacíssima atuação dos dois protagonistas.
O final torna-se um caos total. Vera revisita a mansão de Tony caindo aos seus pés, mas é maquiavelicamente escorraçada por Barret que já esboça em seu sorriso sarcástico a última seqüência. Susan também revisita a mansão de Tony, e encontra Tony & Barret, no meio de uma festa, cercados por mulheres, incluindo a própria Vera. Nesse momento o filme atinge seu clímax em que ninguém pode presumir como ele vai acabar até que Barret se aproxima de Susan e a beija. Susan o retribui carinhosamente com uma raivosa tapa na cara. Fim
Esse é o Criado. Filme exemplar em que facilmente poderia cair no lugar comum mostrando uma luta de classes simplista e terminar com um Happy end e/ou uma lição moral da pior qualidade. Porém, Joseph Losey mostra como direção e roteiro se unem para formar uma obra de arte primorosa em que , passo a passo, prende a atenção a altera a percepção do espectador. Filme em que não existe sobra para o maniqueísmo. Filme que faz com que nós próprios repensarmos nossas relações com aqueles que amamos, ou deixamos de amar.
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