Domingo. 29 de fevereiro de 2004. Los Angeles. Teatro Kodak. Nesse cenário ocorria a setuagésima sexta edição da cerimônia de entrega do Oscar, um dos prêmios máximos do cinema. O ganhador do Oscar honorário pelo conjunto da obra já havia sido chamado, e Jim Carrey teria a honra de entregar tal prêmio a um grande diretor norte-americano: Blake Edwards, diretor de obras populares, como Victor ou Vitória (1982) e os sete filmes da série “pantera cor-de-rosa” (1963-1993).
Edwards foi, sem dúvida, responsável por uma quantidade razoável de “obras-primas”, mas nenhum outro filme conseguiu o mesmo reconhecimento se seu maior feito: Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961). Oferecendo como cenário uma Manhattan bem menos agitada e moderna que a qual nos acostumamos a ver nos filmes mais recentes, ele mostra a vida de Holly Golightly (Audrey Hepburn), uma jovem com problemas financeiros que trabalha como escort. O objetivo maior da garota é arranjar algum milionário que possa sustentar a ela e ao seu irmão, Fred, quando este acabar o período de serviço militar. As coisas mudam um pouco quando ela conhece seu novo vizinho, Paul Varjak (George Peppard), escritor que passa por um período de bloqueio e é sustentando por uma amante mais velha.
O filme tem um ar das comédias românticas às quais nos acostumamos tanto hoje: rapaz conhece moça, ambos se entendem perfeitamente, mas não se envolvem amorosamente por algum tipo de barreira – interna ou externa. Depois de alguns acontecimentos – alguns cômicos –, os dois acabam se desentendendo e, após lamentar a discussão, percebem que estão apaixonados. Ao final de mais uma série de conflitos, o casal acaba junto e feliz – à exceção de alguns casos. É mais ou menos isso que vai acontecer em Bonequinha de Luxo, somando uma característica especial: nesse caso os “mocinhos” não são pessoas ingênuas e honradas, são tipos marginais; ambos se prestam a praticar um certo tipo de prostituição. Hoje, após assistirmos a Uma linda mulher (1990) ou Moulin Rouge (2001), podemos não nos surpreender com isso, mas a sociedade de 1960 certamente o fez. A prova é que uma série de características do enredo original – um livro homônimo de autoria de Truman Capote – foram eliminadas no roteiro final, como a bissexualidade de Holly. O Paul Varjak literário, inclusive, é um homossexual que tem a vizinha como uma fonte de inspiração. As mudanças promovidas por George Axelrod no roteiro tiveram dois motivos principais: a adequação do papel a Audrey Hepburn, que ficou preocupada com a promiscuidade que o papel original emanava, e a tentativa de deixar o filme um pouco mais “familiar”, mais acessível a uma grande audiência.
O corte das partes mais polêmicas da história original de Holly Golightly não prejudicaram de modo algum a qualidade do filme. Bonequinha de Luxo é um filme leve, divertido e com relances de um humor pastelão – evidentes nas cenas da festa que a protagonista promove em sua casa e na construção do personagem do vizinho estressado da protagonista, o Sr. Yunoshi (Mickey Rooney), um asiático bastante estereotipado. Além disso, a trilha sonora da obra é impecável e ganhou dois Oscars – um pela “melhor canção original” do ano, Moon River – e um Grammy. Um pouco da desenvoltura original de Holly foi, inclusive, mantida: que mulher invade pela janela a casa do vizinho que acabou de conhecer trajando apenas um roupão e deita-se na cama com ele, que está despido?
O toque de sofisticação que emana do filme tem muito a ver com o figurino confeccionado pelo célebre estilista Givenchy – quem liga para o fato de uma garota falida estar usando roupas de alta costura? –, mas deve ainda mais a Audrey Hepburn. Elogiada mais pelo carisma e pela presença na tela que pela atuação em si, a atriz era modelo de vestir-se e portar-se de toda uma geração. Todas queriam ser como ela e como Holly, o que fez com que o estilo bonequinha de luxo invadisse os guarda-roupas das mulheres. O vestido preto original usado na abertura do filme foi, inclusive, a leilão e acabou arrematado pela “bagatela” de 807 mil dólares. Ao constatar a influência que Audrey e o filme exerceram sobre a década, fica difícil imaginar Marilyn Monroe no papel de Holly Golightly, como Truman Capote tanto queria.
Embora Bonequinha de Luxo não apareça no topo de listas dos “melhores filmes de todos os tempos”, ele é um dos filmes preferidos de um número grande de pessoas e um dos filmes menos criticados de que já tomei conhecimento. Sempre nos lembraremos com carinho da garota maluca que vivia num apartamento sem móveis, com um gato sem nome, deixava perfumes e batom na caixa de correio, cometia pequenos furtos inconseqüentes, tocava violão, usava janelas como portas, era incrivelmente linda e bem vestida, sonhava em casar com um milionário e decidiu dar uma chance ao amor. Bonequinha... é uma comédia romântica interessante, leve, gostosa de se ver, capaz de deixar um sorriso nos lábios de qualquer pessoa que se aventure a assisti-la – e todos têm o dever de fazê-lo.
Bilbiografia:
BERARDINELLI, James. Breakfast at Tiffanny’s. Acessado em: 16 nov 2007. Disponível em: http://www.reelviews.net/movies/b/breakfast_tiffanys.html
BONEQUINHA DE LUXO. Adorocinema. Acessado em: 16 nov 2007. Disponívem em: http://www.adorocinema.com/filmes/bonequinha-de-luxo/bonequinha-de-luxo.asp
BONEQUINHA DE LUXO. 65 anos de cinema. Acessado em: 16 nov 2007. Disponívem em: http://www.65anosdecinema.pro.br/Bonequinha_de_luxo.htm
BREAKFAST AT TIFFANY’S: Bonequinha de Luxo. Acessado em: 16 nov 2007. Disponível em: http://hapburn.tripod.com/breakfas.htm
FARIAS, Juliana. Bonequinha de Luxo. Café Colonial. 03 set 2006. Acessado em: 16 nov 2007. Disponível em: http://cafecolonial.wordpress.com/2006/09/03/bonequinha-de-luxo/
FAUSTO, Juliana. Bonequinha de Luxo. Contracampo. Acessado em: 16 nov 2007. Disponível em: http://www.contracampo.com.br/71/bonequinhadeluxo.htm
GOMES, Moacir Moreira. Bonequinha de Luxo. A world apart. 04 jul 2004. Acessado em: 16 nov 2007. Disponível em: http://moa.fezocaonline.com/archives/002081.html
LIMA, Tatiana. Bonequinha de Luxo. Colunas Diginet. 30 jun 2007. Acessado em: 16 nov 2007. Disponível em: http://colunas.digi.com.br/tatiana/bonequinha-de-luxo/
ROCHA,José Roberto. Bonequinha de Luxo. Contracampo. Acessado em: 16 nov 2007. Disponível em: http://www.contracampo.com.br/74/dvdvhsbonequinhadeluxo.htm
SALDANHA, Beatriz. Bonequinha de Luxo. Cinema com rapadura. 28 ago 2007. Acessado em: 16 nov 2007. Disponível em: http://www.cinemacomrapadura.com.br/blog/2007/08/28/bonequinha-de-luxo/
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