terça-feira, 7 de abril de 2009

"Crime e amor em ausência" por Roberta Cardoso Morais


Para compor o clima de um noir, a estética é fundamental. Não se pode separar o estilo da forma. O estilo aparece nos Estados Unidos, principalmente na década de 40, após a grande depressão de 30. O alto contraste das suas imagens tonifica a temática pessimista, oriunda da depressão. É por ela também que crescem as histórias, passadas nos grandes centros urbanos, nos bares, hotéis, mas não há muita moral guiando as relações. Laura é um filme carregado. Assassinato, relações de interesse, paixão.


Waldo Lydecker (Clifton Webb) começa narrando o filme, típico de um filme noir, narra a falta que sente de Laura (Gene Tierney), sempre num tom muito ácido, firme. O detetive Mark Mcpherson (Dana Andrews) fora incubido de solucionar o assassinato de Laura, começa a investigar Lydecker, Shelby Carpenter (Vicent Price) e Ann Treadwell (Judith Anderson). Shelby estava noivo de Laura, mas mantinha relações com sua tia, Ann. Ann é uma senhora, pouco preocupada com certos valores, vê em Shelby um reflexo de si mesma, além de ser ele um jovem muito atraente. Não se incomoda em dar dinheiro a Shelby, para que ele fique com ela. Laura passa metade do filme sem realmente aparecer, exceto pela sua pintura na sala de seu apartamento e pelos flashbacks de Lydecker e Carpenter.


Laura é uma publicitária bem sucedida que empregou Carpenter e se apaixonou por ele e mantém uma relação dúbia com Waldo. Eles são amigos, mas não se sabe até onde são só amigos. Waldo é claramente obcecado por Laura e faz de tudo para atrapalhar seus possíveis romances. Shelby não usufrui dos prestígios que Waldo possui, e é pisado por ele sempre que há oportunidade. Não é do ‘tipo convencional’ como ele mesmo diz, e até então, é o principal suspeito da morte de Laura. Principalmente quando, na verdade, a assassinada não era Laura, e sim uma modelo apaixonada por Shelby.


Acontece de a personalidade mais constante na trama ser o assassino. Talvez por isso Waldo fale com tanta firmeza, sabia o que tinha feito e até onde poderia jogar a culpa para os outros. Os demais sabiam não ser culpados, mas tinham ‘outras culpas’, menores, sempre desconfiados (resultado da grande depressão, as pessoas deixavam de ser preocupar em seguir caminhos corretos, e de uma maneira ou de outra, tinham contas obscuras a declarar).


Como é típico do ambiente noir, as personagens femininas fazem as histórias girarem em torno de si. Laura, apesar de ausente a maior parte do filme, é a grande força movedora da trama. Até o detetive se vê apaixonado pela pintura de uma morta. Ann e Shelby se unem por interesse e defesa de si mesmos. Mcpherson soluciona o caso, mas não tem tempo de prender Lydecker. O final do filme é bastante poético. Ouve-se a voz de Lydecker no rádio, falando sobre a eternidade do amor. Ele está prestes a atirar em Laura. Mas Mcpherson e seus companheiros a salvam, e ele é atingido. Na troca de tiros, o relógio que ele havia dado a Laura também é destruído, acabando o ciclo de Waldo Lydecker.


As sombras no filme o deixam ainda mais carregado e subjetivo. Até mesmo nas cenas diurnas, as sombras se fazem presente. Várias vezes os personagens são mostrados através de espelhos, lhes dando mais subjetividade. A movimentação de câmera nos passa a impressão de que o espectador se faz presente no filme como um espião. Sempre sabendo algo mais que algum dos personagens. Isso também contribui para aumentar a tensão do filme, e intensificar a desconfiança geral.


É importante lembrar que, hoje sendo considerado um estilo, os filmes noir não seguiam uma regra determinada. Tinham forte influência do expressionismo alemão, e tinham muita influência na literatura neo-realista francesa. Fora um ciclo, apenas possível por causa da impressão que deixou a depressão de 30 na mente das pessoas. Através do tempo, o noir foi reinventado, mas sem perder muito suas características, em filmes com temática de crime e femme fatales, como em "Los Angeles: cidade proibida".

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