segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"O Rio Sagrado", por Daniella Tavares


A Índia está entre os 18 países de maior diversidade do mundo, em muitas das suas regiões encontra-se uma grande variedade de espécies endêmicas. Sendo espécies endêmicas aquelas que são únicas de uma região e possuem características diferentes das de outras espécies encontradas no mundo. Muitos casos de endemismos são resultantes do isolamento geográfico, isolamento este que faz com que indivíduos da mesma espécie sejam separados e se tornem estranhos dentre da sua própria espécie. Mesma sensação de isolamento que pode ser observada no capitão John, um militar norte americano que perdeu a perna na guerra e se sente um estranho entre o seu próprio povo.
            O capitão John é um personagem do filme O Rio Sagrado, Jean Renoir. Pode-se dizer que Renoir também partilha do sentimento do capitão, após o fim da II Guerra este vai aos Estados Unidos e tem que submeter sua individualidade cinematográfica ao sistema de produção dos estúdios. Essa sensação de estranhamento faz com que Renoir retome e ao mesmo tempo renove sua forma de mostrar o mundo através da arte.
            O Rio Sagrado não é apenas um filme sobre a cultura hindu, mas sim um filme sobre como os outros- ingleses e americanos- vêem essa cultura, entretanto sobre uma óptica distante, sem querer conhecer muito ou participar. É Harriet, a primogênita de uma família de ingleses que mais tem uma visão idealizada da cultura hindu, mas ainda é observado certo distanciamento. Isso é notado nas cenas que retratam a festividade do Diwali, na qual indianos perpetuam seus rituais do lado de fora enquanto ingleses permanecem dentro das paredes e ensaiam um baile.

            Um maior contato com o mundo indiano é tido por Bogey, o único filho homem, que, na sua curiosidade pela biodiversidade indiana, transpõe os limites da casa e despreza os costumes da família. Numa família onde as lições e costumes são importante, Bogey alega que não gosta de ortografia, mas sim de tartarugas. É Bogey o único personagem de toda a trama que tem certeza que seu mundo é aquele, mas é também o único que tem que abandonar o lugar justamente por se sentir tão pertencente a ele. 

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