Olhar, sentir, falar das coisas que
nos circundam. Às vezes torna-se extremamente doloroso ter que se olhar no
espelho e ver o quanto há de culpa e incompreensão na sua existência perante o
mundo. Quando estamos mortos em vida, quando tomamos consciência da nossa
existência insignificante perante a vida ou quando ela se mostra sem sentido.
Quase dez anos depois de maio de
1968, um jovem parisiense se encontra deprimido por enxergar na sociedade da
qual ele mesmo faz parte um mal crônico. Ele não aguenta mais fazer parte dessa
realidade e não enxerga nenhuma saída a não ser a morte, optando por um niilismo absoluto.
Sem conseguir amar ou receber amor,
Charles é o resultado da sociedade moderna que percebe que falhou em algum
momento e que agora não consegue se encontrar mais em algo sólido a não ser
numa utopia cega. É exatamente o que o protagonista não aceita: cair numa ilusão
que dure poucas horas e que precise ser controlada como um remédio. Na falta de
crença a não ser na morte, Charles não vê outra saída para esse impasse
existencial.
O filme tem um peso que ultrapassa o
seu tempo, levantando questões que nos são tão reais e comuns mesmo quase
quarenta anos depois, onde os valores e as ideologias, já não são tão claros e têm
muito menos força. Como já antecipava Ben Singer, a modernidade é a era do
“desamparo ideológico”.
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