sábado, 29 de maio de 2010
"As oito vítimas" por Lady Patrícia Oliveira
Durante a Segunda Guerra Mundial, inevitavelmente toda a produção da Europa sofreu os efeitos do conflito em seu panorama cinematográfico. Na Inglaterra, por exemplo, as salas de cinema chegaram a fechar temporariamente suas portas. Porém, ainda eram produzidos pequenos documentários de guerra e curta metragens de caráter ufanista (para elevar a moral dos soldados), pelos Estúdios Ealing. Após a Guerra, os estúdios vieram a atingir seu auge no final dos anos 40 e início dos anos 50, ganhando reconhecimento por suas comédias de humor negro, que ficaram conhecidas como comédias Ealing.
Dentre os filmes que marcaram essa época está As Oito Vítimas (Kind Hearts and Coronets). Nele, temos a história de Louis Mazzini (Dennis Price), filho de um pobre cantor de ópera italiano e uma moça aristocrática, rejeitada por sua família rica. Órfão de pai, Louis jura vingança ao ver negado a sua mãe seu último desejo: ser enterrada no mausoléu da família. Pra isso, ele decide matar oito pessoas de sua família materna, para se tornar um duque.
Apesar da história aparentemente macabra, o filme é cheio de graça. O famoso senso de humor britânico está lá, certeiro e cortante, presente em praticamente todas as cenas: desde o menor detalhe, como a rima provocada pelo nome da primeira vítima, Ascoyne D’ascoyne, ou nos chapéus bizarros da personagem Sibella (Joan Greenwood); até na frieza sarcástica de Louis ao narrar sua história, e das tiradas hilárias que pontuam cada assassinato. Embora o filme não tenha maiores pretensões que não a de divertir, surge uma questão que parece brincar com o senso de moral do espectador: se Louis é um assassino, porque somos levados tão naturalmente a torcer pelo sucesso de sua empreitada? Parte do mérito é de Dennis Price, que confere ao seu personagem uma dignidade ímpar, como se matar aquelas pessoas fosse um direito adquirido. Mas o destaque do filme fica por conta de Alec Guiness, que participou de várias comédias britânicas na época, mas que ficaria conhecido posteriormente por seu papel de Obi-Wan Kenobi na saga Star Wars: ele interpreta nada menos que oito personagens (as oito vítimas do título)! Para completar, temos um final ambíguo, e por isso mesmo surpreendente.
Ambíguo também parece ser o pensamento que imperava naquele longínquo ano de 1949: senso de humor à parte, o filme quase foi proibido na época de seu lançamento, não por causa de um homem que assassinava seus parentes, mas sim por mostrar uma mulher casada que traía seu marido. Ah, o conservadorismo inglês...
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uma comédia de primeira grandeza. humor negro e inteligente de um jeito pouco visto por aí. o feito de alec guinness é de fato outro ponto alto.
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