sábado, 29 de maio de 2010

“Bem aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”, por Evandro Mesquita



A história está centrada em três crianças da área rural de Lancashire, Inglaterra as quais encontram um estranho (Bates) dormindo no celeiro da fazenda. A criança mais velha, Kathy (Mills), lhe pergunta quem é. As palavras que ele pronuncia são: “Jesus Christ” que em português seria “Minha Nossa”. Isso cria uma confusão na cabeça de Kathy que passa a acreditar, piamente, que aquele homem seja, realmente, Jesus Cristo. Porém o tal Cristo é, na verdade, um assassino procurado pela polícia que se escondeu naquela fazenda.

Este é um filme que apresenta certa dose de humor natural, característico das crianças, e a sua disposição de amar e confiar.
Nota-se a devoção e pureza das crianças em contraposição a muitos adultos que mercantilizam a fé e os ideais de Jesus no mundo atual, em especial durante a Páscoa e o Natal.

Contudo, o filme não pretende dar um olhar doutrinário-teológico quando mostra as crianças como se fossem da parábola “O Bom Samaritano” de Jesus. Enquanto lida com um material tocante, que pode até sugerir blasfêmia para alguns, a obra está permeada de simplicidade, naturalismo remetendo a uma atmosfera de religiosidade remota contada com humor, compaixão e sentimento de fraternidade por parte das crianças.

Talvez este sentimento de amor estivesse pronto a se revelar, até porque no caminho para a fazenda as crianças têm um breve encontro com o Exército da Salvação. Logo depois elas mostram, na prática, sua compaixão ao resgatarem alguns gatinhos que foram jogados num rio por algum sujeito mau. Logo, estavam “prontas” para exercitarem seu dever cristão que era proteger e amar os mais fracos. As três crianças informam o segredinho do “retorno de Jesus” para as demais crianças da vila, deixando de fora os adultos.

A sua reverência e animação, respeito e prestatividade são, de fato, engraçados e genuínos. Há muitos toques brilhantes e vários paralelos com a história da Bíblia. O nascimento de Jesus se deu num celeiro, local onde foi encontrado o estranho. No final, ao ser revistado pela polícia “Jesus” abre seus braços como se estivesse sendo crucificado. O pão e o vinho subtraídos do jantar da família eram oferecidos ao estranho, remetendo à Ceia do Senhor.

Não há quem não se encante com a fotografia, a música e todo o cenário bucólico criado neste filme. Além disso, e principalmente, vejo como uma grande metáfora da maldade x pureza, onde a última deveria sempre prevalecer, não apenas no mundo das crianças, mas, e principalmente, no mundo dos adultos, até porque segundo os ensinamentos de Jesus (o verdadeiro), só alcançarão o Reino dos Céus os que forem puros como as crianças.

Recife, maio de 2010.

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