sábado, 29 de maio de 2010

"Repulsa ao Sexo (Repulsion, 1964)" por Gibran Khalil de Espíndola Brandão


Repulsa ao Sexo é considerado por muitos a obra-prima de Roman Polanski. Tendo boa parte de sua trama passada dentro de um pequeno apartamento suburbano, o filme compõe a primeira peça da trilogia do apartamento (composta também por “O Bebê de Rosemary” e “O Inquilino”). Suas características claustrofóbicas e psicopatológicas marcaram tendência e sua sensualidade aflora em uma temática bastante chocante.
Não por acaso, o filme retrata e é rodado em um período de grande efervescência cultural na Inglaterra. O Swinging London não marca só uma atmosfera de sensualidade e novidade, mas também uma estética fílmica; belas mulheres, pulsão sexual, o preto-e-branco, a rua, as vitrines a moda. Tudo neste Polanski “britânico” respira estes ares de juventude.

O filme conta a história da estranha e bela manicure, Carol (Catherine Deneuve), que vive em um estado de confuso desligamento que acarreta em uma repulsa sexual e um “horror a homens”. Quando a sua irmã viaja com o amante para a Itália, ela fica sozinha e todos os seus medos começam a surgir em forma de situações aterrorizante de violência e perversão.

O cinema britânico do final dos anos 50 e ao longo dos anos 60, tematizou várias vezes assuntos tabus para a época; Na New Wave e no Swinging London, temas como a liberdade sexual, o hedonismo, a pobreza, a juventude, a homossexualidade se tornaram pontos comuns de um pensamento libertador e jovem.

Tratando de uma temática altamente sexual a um ponto doentio, Polanski parte do extremo oposto da liberdade para definir uma humanidade pretensamente sexual, porém, reprimida socialmente. E os freudianos se divertem!

A personagem, cheia de marcas de repressão, se desprende (não voluntariamente) de um mundo bastante “sexualmente pulsante” e foge a todo preço de contatos mais íntimos com homens. No entanto, quando ela fica só no apartamento devido a uma viagem da sua irmã com o namorado (homem casado), seu estado de repressão sexual aflora em aterradoras aparições de figuras grotescas que estupram, violam e a assediam.

Para Carol, o sexo sempre esteve do lado de fora de seu apartamento. O contato de sua escova de dentes com produtos masculinos a deixa tensa, o som do sexo de sua irmã com namorado no quarto a deixa assustada. Mesmo assim, de certa forma, os gemidos de prazer da irmã delimitam um distanciamento entre ela e o sexo. Todavia, quando sua irmã viaja, há a quebra deste distanciamento, o sexo sai do quarto da irmã e vaga pela sua casa, agressivo, violento e impulsivo. O sexo invade seu quarto, assim como sua imaginação (como o texto vai ser publicado, vou evitar spoilers).

Vale ainda ressaltar que toda esta profundidade narrativa não existiria sem a presença de Catherine Deneuve como personagem principal. Ela representa a espécie de beleza e sensualidade de sua época. Seu jeito de andar e de se vestir faz os homens a desejarem. Porém, Polanski conseguiu injetar nessa beleza sedutora uma dosagem de loucura que surpreendeu o público. Sua aparência distante, lunática e desesperada, com seus olhos arregalados associa-se a protagonista paranormal e reprimida de “Carrie, a estranha” (Brian de Palma, EUA, 1976). Porém francesa e sexy.

Polanski, assim como em “O Bebe de Rosemary”, conseguiu neste filme deixar um clima constante de suspense e terror. Seguindo as imaginações da personagem estamos também em um estado alheio do mundo, imerso na possibilidade de algo acontecer. Os efeitos especiais, o estupro, os recursos expressivos e narrativos parecem ter influenciado uma série de tendências mundiais em cinema; Um cinema underground nos Estados Unidos e o Cinema Marginal, no Brasil (As mãos saindo da parede para agarrar Carol são grotescamente comparáveis as mãos do inferno do Zé do Caixão em “A Meia-Noite levarei a sua Alma”).

Querendo reproduzir uma descrição sucinta do que é “Repulsa ao Sexo”, basta descrever as características principais de sua protagonista; bela, sensual, assustadora e neurótica. Polanski consegue em seu filme, traduzir bem um mundo reprimido e uma época de libertação. Carol é mais uma vítima do horror da repressão sexual e este “crime” é retratado de forma esplêndida e impecável em sua feia crueldade.

Um comentário:

  1. Polanski é o meu diretor favorito... e gostei de ver ele sendo bastante abordado no blog, principalmente com esses filmes do começo da carreira. Não seria melhor dividir o blog em blocos? Por exemplo, uma seção só sobre POlanski, outra sobre Godard, etc?
    O texto acima está bom, mas poderia ser mais opinativo, mais denso, mais crítico. Mas está de parabéns o autor.

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