Mostrando postagens com marcador sexo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sexo. Mostrar todas as postagens

domingo, 7 de novembro de 2010

"Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha medo de Perguntar)", por Marcílio Camelo


Nas décadas de 1960 e 1970, a poderosa Hollywood tentava se levantar de uma crise que preocupava a indústria cinematográfica americana. A Nova Hollywood, como ficou conhecida essa época de redescoberta fílmica, ao mesmo tempo em que se aproximou do modernismo europeu, aperfeiçoou o modelo de filme de sucesso, o blockbuster. Com temáticas contemporâneas à sociedade americana, o Cinema desse momento abre mão de uma censura ultrapassada e se lança a explorar o meio das drogas, do rock 'n' roll, da violência, do sexo, etc. Nesse cenário, despontam novos autores como o diretor Woody Allen, que consegue transformar o livro Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha medo de Perguntar), do especialista em sexo Dr. David Reuben, em uma divertida coletânea de contos inusitados.

Ator e comediante, Woddy Allen explora sete perguntas sobre sexo da maneira menos cientificamente correta, livrando-se qualquer receio para falar sobre o assunto. Logo no início, somos levados a um reino da Idade Média no qual o bobo da corte é o personagem do próprio Allen, que atuará em outros três capítulos do filme. Felix, o bobo que carrega um boneco igual a ele, recebe a visita do fantasma de seu pai, que só poderá descansar caso o filho transe com a rainha. Felix recorre, então, a um afrodisíaco para conquistar a dama, mas o cinto de castidade que ela usa atrapalha seus planos e ele acaba sendo descoberto pelo rei. O hilário fim acontece com o bobo ainda fazendo graça antes de sua execução, na qual aparece a cabeça do boneco decepada.

Percorrendo lugares e épocas diferentes, Allen trata com bom humor o que para muitos é tabu ainda hoje. Seguindo as esquisitices que ocorrem a cada capítulo, vemos a sodomia de um médico que se apaixona pela ovelha de um paciente seu, é descoberto pela esposa num quarto de hotel com o animal, e acaba sozinho bebendo um sabão líquido tão macio quanto lã. O humor bem empregado com um assunto sempre polêmico, prende ainda mais o espectador, e ótimas tiradas garantem a descontração, como o vibrador que o personagem de Woody tenta usar em sua esposa para acabar com a frigidez dela, mas que termina pegando fogo. No próximo episódio, o diretor lança a dúvida de que travestis são homossexuais, mostrando um homem que gosta de se vestir de mulher e tem seu estranho gosto descoberto pela sociedade. Woody também aborda a televisão e seu meio midiático com muito humor, criando um programa de TV que procura descobrir as perversões dos telespectadores e realizar suas fantasias sexuais. Ainda nesse capítulo, o diretor trata comicamente da sexualidade em uma propaganda de condicionador masculino em que o estereótipo de machão é desfeito quando os homens se beijam no final.

Vale a pena falar sobre a paródia da história do Dr. Frankenstein, na qual um médico maluco faz experimentos sexuais em humanos. Seu ajudante, um corcunda medonho também chamado Igor, ficou desse jeito por conseqüência de horas de orgasmo. Mais uma vez como protagonista, Allen interpreta Victor (outra referência ao conto gótico), o mocinho que consegue salvar a cidade de um seio gigante, que mata pessoas espirrando leite nelas. Para fechar o filme, Woody faz uma hilária comparação do corpo masculino a uma máquina, operada por vários homens, desde o momento da conquista da mulher até a ejaculação, sendo o próprio diretor um dos espermatozóides em ação.

O que Woody Allen propôs ao retirar perguntas de um livro sério e criar situações cômicas foi justamente não respondê-las, e mostrar que o sexo não é como a matemática, cheio de fórmulas e regras. A sexualidade é algo estranho, problemático, imprevisível, surpreendente. E por que não engraçado?


Ficha técnica:
Everything You Always Wanted to Know About Sex ( But Were Afraid to Ask)
Título Brasileiro: Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha medo de Perguntar)
Direção: Woody Allen
Roteiro:
• David Reuben (livro)
• Woody Allen (adaptação)
Tempo de Duração: 87 minutos
País de Origem: EUA
Ano de Lançamento: 1972
Elenco:
• Woody Allen - Fabrizio/Victor Shakapopulis/Esperma 1
• Regis Philbin - Regis Philbin
• Louise Lasser - Gina
• Lou Jacobi - Sam
• Burt Reynolds - Esperma Chefe
• John Carradine - Dr. Bernardo
• Anthony Quayle - O Rei
• Gene Wilder - Dr. Doug Ross
• Lynn Redgrave - A Rainha
• Ian Abercrombie - Bernardo

domingo, 4 de julho de 2010

#Alok, por Ingrid Maiany


“Oh! Carol, I'm so love with you”, cantou Neil Sedaka em 1959, seis anos antes de Roman Polanski lançar o esquizofrênico “Repulsa ao Sexo”, considerado um dos melhores filmes de terror psicológico já feito. E foi essa música que me veio à cabeça desde a primeira cena em que Catherine Deneuve apareceu com seu olhar vazio, dando vida à Carol Ledoux, manicure, retraída e tímida. A atriz, no auge de sua beleza, está exuberante no longa. Frágil, delicada e sensual, Carol atrai não só o olhar dos homens que a cercam, como o olhar do público, que, no filme de Polanski, eleva à máxima a condição de voyeur – premissa do cinema.

Assim como Hitchkock em sua “Janela Indiscreta”, Polanski abusa do olho panóptico. O espectador vê não apenas a desintegração da personagem, como acompanha suas alucinações, à medida que elas evoluem. É exatamente o edifício em forma de anel, descrito por Foucault. Um observador que, de onde se encontra, consegue ver o interior e o exterior de uma cela e nenhum ato de seu ocupante escapa ao seu olhar. Pois bem, vemos a Carol bonita, com rosto de anjo, jovem e cheia de possibilidades e a Carol com uma mente deveras perturbada, e (por que não?) um tanto perversa.

“Repulsa ao sexo” é a primeira parte da claustrofóbica trilogia do apartamento – que conta ainda com os filmes “O Bebê de Rosemary” e “O Inquilino”. Como o próprio Polanski afirmou, em sua biografia “Roman”, o filme é um thriller, feito para conseguir gritinhos de mocinhas no cinema e rapazes assustados abraçando-as. Tudo ajudado pela excelente trilha minimalista de Chico Hamilton, que junto ao som constante de água pingando e tic-tacs de relógios, geram na plateia um desconforto contínuo.

A história se passa em Londres, onde Carol divide apartamento com a irmã mais velha, Hélène (Yvonne Founeaux) . No primeiro plano do filme, já se desconfia que há alguma coisa errada com a mocinha. Seu olhar perdido e suas poucas palavras instigam várias vezes a pergunta “Você se sente bem?” pelos personagens que a circundam. Carol não responde. Segue em seu silêncio, seu andar mecânico, seus olhos de vidro, seus tiques nervosos limpando sujeiras imaginárias.

Embora Carol e Hélène conversem muito pouco, nota-se que a irmã é a única que consegue “salvar” Carol de seu estado doentio. E é por isso que ela entra em desespero quando Hélène anuncia que vai viajar para a Itália com o amante, Michael (Ian Hendry). “Por favor, não vá”, clama a protagonista, e nós fazemos coro já prevendo o desastre: “Não vá, não vá”. Mas acontece que Hélène vai. E, uma vez só, Carol fica gradativamente mais surtada.

Em suas primeiras noites sem a irmã, o sexo muda de quarto no apartamento. E, no lugar dos gemidos de Hèléne fazendo sexo com o amante, um operário que certo dia lhe perguntara na rua, em tom jocoso, se Carol queria ver sua furadeira, a possui silenciosamente em sua cama. Realidade, sonho, alucinação?

As cenas de estupros se repetem algumas vezes durante a película. Em todas é representada da mesma maneira: violenta e muda. A incapacidade de Carol, seus olhos de temor, seus gritos abafados pelo silêncio geram uma angústia no telespectador. Angústia também sentida quando a vemos perceber as paredes sem consistência, de onde saem mãos bobas que a agarram e imobilizam. Carol está presa em um abuso sexual constante e não pode se libertar, não sozinha.

À principio, pode-se pensar que Colin, vivido por John Fraser – que a vê passar na rua e se apaixona por seu jeito enigmático – pode ajudá-la a sair de seu mundo horripilante. O rapaz é carinhoso, atencioso, protetor. Contudo, não há espaço para o romance no filme de Polanski. E se, como diz Caio Fernando Abreu, “sem amor, só a loucura”, o que vemos é uma pessoa em decomposição – tal qual o coelho que seria o jantar e vira a única companhia de Carol no apartamento escuro e fora de ordem.

Envolta em sua insanidade, Carol libera instintos assassinos. Certa vez eu li que a loucura provoca paixão ou compaixão. Polanski não abre espaço para que o espectador tenha pena da protagonista. Mesmo quando revela – se revela – os motivos da repulsa que Carol sente pelo sexo, ele o faz sutilmente. De maneira que, de todos os sentimentos que podemos sentir pela mocinha, Polanski faz surgir, talvez, o menos provável diante das atitudes que ela toma. E assim, quando a vi nos braços de Ian Hendry, imóvel como sempre, ao final do longa-metragem, só pude pensar em uma coisa: “don't matter what you do, oh! Carol, i'm still in love with you”.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Repulsa ao sexo", por Ramon Dias



O diretor franco-polonês Roman Polanski é um homem que conhece de perto o lado obscuro da psique humana. Ainda muito novo, sua mãe foi morta em um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra, e Polanski só conseguiu sobreviver por que passou parte da vida em fuga, evitando sua prisão. Em 1969, sua mulher foi assassinada pelas mãos da família Manson, liderada pelo maníaco Charles Manson, um dos mais conhecidos serial killers da história americana. Essas tragédias deixariam marcas profundas em sua vida, e sem dúvida influenciariam para uma aproximação de suas obras a temas como loucura, violência e barbárie. Filmes como O inquilino, Dança com vampiros ou O bebê de Rosemary flertam com o gênero de thriller/terror, e tornaram-se verdadeiros clássicos. Mas certamente foi em Repulsa ao Sexo (1965) que o diretor se projetou, ganhando a notoriedade da crítica internacional.

O filme acompanha a história de Carol (Catherine Deneuve), uma bela manicure que trabalha em um salão de beleza na agitada Londres dos anos 60, momento em que a cidade passou a ser um pólo da cultura de vanguarda, lançando ao mundo tendências inovadoras e ousadas nas áreas da música, moda e cinema. Era o momento dos Beatles, Rolling Stones e The Who, da minissaia, dos atores Julie Christie, Alan Bates e Terence Stamp, e dos cineastas Tony Richardson, Richard Lester e Lindsay Anderson.

Mas em meio a toda essa efervescência jovial, Carol mostra-se distante. Tímida, reprimida e obcecada por limpeza, apresenta uma grande dificuldade de se relacionar com as outras pessoas, principalmente do sexo oposto. Carol prefere passar as noites trancada em seu apartamento, que divide com a irmã mais velha Helen (Yvonne Furneaux), apesar dos constantes convites para sair do incansável aspirante a namorado, Colin (John Fraser). Qualquer coisa que remeta ao sexo a causa náuseas, e um simples beijo roubado por Colin é motivo de uma corrida desesperada em busca de uma pia para lavar violentamente a boca.

A situação piora quando Helen decide viajar para a Itália com seu namorado Michael (Ian Hendry), deixando Carol sozinha em casa por dez dias. A partir daí, o filme ganha uma conotação expressionista, quando o cenário começa a transformar-se à medida que a sanidade da protagonista entra em uma decadência progressiva. Rachaduras começam a aparecer nas paredes, que adquirem uma consistência cada vez menos sólida, e o apartamento parece ficar mais apertado, com mais objetos espalhados, aumentando a impressão de claustrofobia e loucura. A única companhia de Carol é um coelho cru e temperado em cima da geladeira, que vai apodrecendo com o tempo, causando também no espectador uma sensação de repulsa. Delírios e pesadelos sexuais vão se tornando mais e mais freqüentes, ao ponto de tornar-se difícil distinguir o real do imaginário, e o filme toma uma atmosfera etérea. Os sons também possuem uma grande importância na criação dessa atmosfera onírica, como a repetição do tic-tac do relógio, do sino da igreja vizinha, e dos barulhos noturnos de passos se aproximando ou coisas estalando. Entretanto, nas seqüências em que Carol imagina estar sendo estuprada, Polanski optou pela ausência de som, como que acentuando a impotência da personagem diante da situação, pois apesar dos inúmeros gritos proferidos, nada se ouvia. Também merece atenção a atuação de uma jovem Catherine Deneuve, sempre com o olhar perdido e fora do mundo externo.

O primeiro plano já sugeria o tom do restante do filme. Um plano-detalhe sufocante de um olho apreensivo, que termina com o rosto de Carol, aérea. Dessa forma, Roman Polanski conduz uma obra sobre as paranóias e psicoses criadas pela sociedade moderna, que, apesar de se considerar progressista e libertária, não dá espaço para aqueles que não se adéquam aos seus costumes e ritmos, gerando todos os dias histórias trágicas como aquela vivida por Carol. É só ligar a TV e assistir ao jornal.